Sobre reciprocidade, não entender os outros e a vontade de se despedir do mundo.


Uma das coisas que mais me chamaram a atenção em termos de relacionamento foi a grande questão da reciprocidade. Não estou falando daquelas questões que envolvem amor não correspondido ou coisas do tipo. Falo mesmo em questão da expectativa que todos nós temos ou mantemos por alguém em nos corresponder um gesto, uma ação, um sentimento. O grave problema de ser alguém que se preocupa com os outros é que você estará muito mais propenso a se machucar. Porque além de si mesmo, você acaba carregando outra pessoa nas tuas costas. E, a menos que você seja o Superman, o peso vai te fazer ter grandes dores de coluna.

Mas a minha curiosidade específica se encontra num tipo de situação recorrente no imaginário contemporâneo. Seu melhor amigo começa a namorar a guria dos seus sonhos sem nem ter te comunicado. Você tem todas as razões do mundo para ficar mal por isso. E mais ainda em imaginar que a sua amizade não foi recíproca. Ou então, você se dedica, se esforça pra ir a um almoço e passa horas ouvindo aquela sua amiga mal amada no fim do namoro dela. Quando você termina e precisa de um colo, ela diz que não pode porque tem uma festa. Além de querer dar um tiro na cabeça dela, a sensação de angústia e traição é bastante comum.

Eu mesmo já passei por diversas situações onde a reciprocidade era tema central. Foi daí que tirei uma visão um pouco maior da coisa toda. A gente confunde reciprocidade com recompensa. Quer que, o tempo todo, as nossas ações sejam correspondidas com ações de mesmo tamanho e valor por parte dos outros. Esse tipo de recompensa encontra base no nosso egoísmo, no fato de não estarmos abertos às falhas dos outros e aos sentimentos alheios. A gente só leva em conta a decepção em não ser correspondido, porque as nossas próprias expectativas são altas demais. E nunca paramos para pensar que o outro pode ter sentimentos, vontades, valores diferentes ou qualquer outro tipo de coisa envolvido na situação. Ou então, podemos estar certos em reclamar. Porque o que mais existe no mundo é gente que não olha pro próprio rabo. Com o perdão da palavra.

O pior de tudo é quando o mundo inteiro parece não corresponder às suas expectativas, nem à forma como você age com ele. Pode ter havido todo o cuidado, toda a calma, toda a boa vontade. Quando algo desse tipo acontece contigo, você tem que ser compreensivo. Os outros não aceitam falhas nem revoltas por sua parte. Porém, se você provoca uma situação em que outra pessoa não seja correspondida por algo que fez, você se torna a pior pessoa do mundo. É assim mesmo: você não pode esperar que todos ajam como você. Porque pensar assim é o mesmo que pensar no marxismo utópico dos sentimentos.

Por maiores que sejam as decepções com seus amigos, amores ou com você mesmo… Chega uma hora que dá aquela vontade de se despedir do mundo. E não falo em suicídio. Falo em tirar um tempo pra si mesmo, em tentar entender a origem de toda essa mitologia dos sentimentos que existe por aí. Eu desisti de tentar entender. O que não significa que desisti de cometer os mesmo erros, de aprender com isso, de deixar de aprender pra cometê-los de novo. Eu só quero tirar um tempo pra poder dar tchau pro mundo. Antes que eu vá mandar alguns bons e poucos pra casa do cacete.

Enquanto isso, eu vou me auto-avaliando. Repensando minhas prioridades, minhas verdades, minhas formas de enxergar o mundo. Porque seria egoísmo demais me isentar de qualquer culpa e achar que sempre correspondi à altura a minha participação nessa história toda que a gente chama de vida.

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