Eu nunca te amei, sabia?


[Você pode ler este texto ao som de Love You Like a Love Song]

Quando te vi meus olhos eram de desejo sim, não vou mentir. O primeiro aperto de mão foi forte, e deixou o cheiro do meu perfume nos seus dedos. Sim, eu vi que você sentiu. Eu mal sabia como desviar meu olhar do seu naquela reunião, e não notei nenhum esforço seu também.

O primeiro abraço tinha um sorriso e um “até amanhã, então”, mas o que eu senti mesmo foi seu calor. Por algum motivo sua mão deslizou pelo meu braço, e mesmo quente me arrepiou. Mas eu sabia que tinha duas semanas e muito trabalho pela frente, então era melhor deixar pra lá.

Até hoje não encontrei um motivo pra ter tentado me enganar.

Três dias, algumas horas pela madrugada, e eu não demorei nem um minuto pra aceitar seu convite pra uma cerveja na sexta. Afinal, essa é a cidade mais solitária que existe, então eu tinha uma desculpa perfeita.

A cerveja era amarga, a noite era fria, e toda aquela conversa parecia que não ia ter fim. Eu não queria que tivesse fim. Sabia um pouco mais de você, entendia seu sorriso, e me encantava mais. Foi nessa noite que descobri o quanto eu realmente te desejei naquele primeiro dia.

Depois da carona no táxi, a despedida podia ter sido meio sem jeito, dessas que ninguém sabe o que dizer. Mas você me tirou um pouco do chão quando aproximou tanto seu rosto do meu que sua respiração parecia ser a minha. E não, não era a hora do primeiro beijo. Porque a gente queria, mas não queria.

É terrível brigar com o desejo. É cruel tentar não querer algo, quando a gente quer. E foi por isso mesmo que te liguei numa tarde chata de domingo com a desculpa mais boba do mundo. Eu não podia esperar mais um dia, simplesmente porque eu não queria esperar. Nem você.

Aquele beijo, o primeiro. Não tinha pressa, não tinha uma palavra, não tinha tempo. Era como sentir o toque mais forte e mais suave num mesmo beijo. Era onde eu queria estar, e era onde você queria que eu estivesse. Esse momento ainda vive em mim, como se estivesse se repetindo pra sempre.

Mas a gente não queria se amar. E prometeu não se amar. Se era bom, se era intenso, se fazia a gente esquecer o controle, então que fosse assim.

A gente tenta, mas não se engana.

Eu nunca te amei, sabia? Até aquele primeiro dia.

Carol Figueiredo

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