Quando eu resolvi dar adeus ao Tinder


Esquerda, esquerda, direta, esquerda. Gosto de cachorros, amo a natureza, curto filmes espanhóis. Sou publicitário, médico, artista, vocalista de uma banda que faz cover do Bon Jovi e voluntário em uma ONG que ajuda crianças carentes. Fiz dois intercâmbios, falo três idiomas, sou caseiro e detesto cigarro.

No fim, somos todos iguais. Desesperados por um final de feliz, de algo que nem sequer conseguiu sair da tela de um telefone ou de uma mesa de lanchonete. Quando vinga, são no máximo duas saídas. Vinho em casa, filme e sexo (na maioria das vezes, bem meia boca). Daí em diante, é hora de procurar por algo melhor. Melhor que eu, melhor que tu, melhor que o Felipe Dyllon cantando “Musa Do Verão” na sua melhor fase física e artística. Algo que atinja o clímax espiritual e sexual, numa plenitude cósmica que faz ter certeza que é de outras encarnações.

Uma, duas, cinco, sessenta e oito vezes, em menos de três anos e ninguém. Ninguém que valesse à pena apresentar para mãe, dividir o peso da mochila em qualquer viagem. Ninguém que realmente aceitasse a minha mania de deixar a toalha molhada em cima da cama. O problema sou eu, então? Essa é uma pergunta da qual sinceramente não sei a resposta. Eu só sei que ” o inferno são os outros”, o Tinder é só um “cata diabo” (apelido que minha amiga deu ao aplicativo), que facilita a escolha do prato, se é que vocês me entendem.

Me decepcionei, na maioria das vezes, pois o entusiasmo era meu, e apenas meu. Mas, por outro lado, já ouvi diversas coisas sem nexo para um curto espaço de convivência (curto = horas), como:

– A gente combina tanto, eu acho que nos conhecemos de outras vidas.

– Vamos namorar? Fazemos um belo casal juntos.

– Não quero mais te largar, nunca mais.

Ouvir as sentenças acima, não foi o problema. O problema foi acreditar nelas. Sempre fui meio “inocentão”, tosco. Uma dessas pessoas que gosta de acreditar no amor, mesmo sabendo que ele não é uma chave que liga e desliga instantaneamente. Também já fui um filho da puta que não se importa, mas nunca agi de forma irresponsável pra conseguir transar com alguém. Nunca sumi sem deixar ao menos um bilhete na geladeira, de um dia para o outro.

Justamente por isso resolvi abandonar o Tinder (e todos os outros aplicativos). Cansei de me machucar e machucar aos outros. Tratar e ser tratado apenas como um objeto. Tenho ciência de que o individualismo e o idealismo são, e sempre serão, os maiores problemas da falta de amor e empatia. Eu só resolvi não fazer mais parte da cadeia alimentar virtual, entende?

Sem sexo? E agora, José?

Masturbação. Punheta, siririca, filme pornô, Xvideos e o caralho a quatro. Apesar de ser carente de afeto (sou carente assumido, não nego), tenho amigos incríveis que não me deixam sozinho, mesmo estando longe. Logo, entrego meu lado positivo e negativo aos que sempre estiveram ao me lado. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.

Antes que tu continues e faça mau juízo de mim, quero lembrar que esse texto só diz respeito a mim, não é uma regra universal de boas normas. Cada um de nós sabe o que é melhor para si, só esquece de se ouvir as vezes. Pode ser que eu me arrependa e mude de ideia amanhã, por enquanto, não me sinto maduro o suficiente para ser um imaturo de App.

É bom lembrar que os prédios, os cafés, os bares, restaurantes e universidades estão cheios de pessoas para se esbarrar, e trocar uma ideia olho no olho, sem aviso prévio. E eu acredito que essas coisas acontecem quando menos esperamos. Afinal, meus caros, há corpos se empilhando aos montes atrás de telas para fazer sexo ao simples toque de um dedo, o que falta mesmo é gente pra fazer amor.

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