Não permita que te digam o que é o amor de verdade


Talvez esse seja um dos textos mais difíceis de escrever por conta das incertezas que são geradas pelo assunto e por conta da vivência de cada um a respeito do tema, que é sempre muito singular.

A gente é impactado pelo amor de diversas formas, seja desde quando criança ao montar peças/desenhos e afins para datas comemorativas, como também pela publicidade, mídia e histórias que vemos por ai. Para pra pensar: desde quando você ouviu a primeira historia ou viu o primeiro desenho ou leu o primeiro livro. Como era a relação de amor presente nele? Era algo real? Algo palpável, algo que fazia sentido?

Provavelmente não… E é ai que mora o problema, porque nem aprender a questionar esse tipo de situação nos aprendemos! A real é que ninguém entende direito o que é o amor, embora a gente viva a presença ou a ausência dele o tempo todo. É um dos sentimentos mais explorados, mas parece que a humanidade até hoje não conseguiu de fato entender do que se trata.

Os filmes, contos, séries e mais um monte de veículos que impactam nossas vidas mostram – quase que diariamente – o sentimento sempre vinculado a: dificuldades, dor, vingança, ego e mais um monte de coisa mas em muitos casos o amor tá bem longe dali.

Felizmente rolou um movimento onde as pessoas passam a perceber que talvez não fosse bem isso que era apresentado. Talvez a vida de Romeu e Julieta não fosse tão da hora, talvez na história do amor todo um todo, tivesse nuances que fossem muito mais profundas pra serem tratadas como banalidades e isso gerou algo que é chamado de “idealização do amor romântico” .Tá, mas o que eu entendo por idealização do amor romântico?

Partindo pra uma explicação bem básica, é toda e qualquer relação existente que não é feita através de uma visão realista. Geralmente são relações que beiram o fantasioso ou também o doentio, onde há diversos excessos, há ciúmes, insegurança e posse, onde – se não há intensidade não é verdadeiro – se não for difícil não vale a pena. Pra ver como estamos constantemente expostos a modelos do tipo, é importante olhar histórias como Cinderela e Bela Adormecida, que são pautadas na conquista onde – a medida que a aproximação do casal de fato acontece – tudo encerra com um “Felizes para Sempre”.

Com isso, muita gente passou a ter certeza de que, se não for desse jeito, não é amor. E com isso, surgiram mil regras para amar, tornando algo simples e puro em algo complexo e que passou a ser visto para poucos.

A real é que o amor romântico cria padrões inatingíveis de relações que a gente nem se questiona se são certos ou não, mas acabamos reproduzindo. A ideia de fugir da solidão ou viver um amor – literalmente – de cinema faz com que nossas percepções sobre o que é cabível ou não passem numa peneira muito despretensiosa e atravessamos diversos momentos com base em algo que deveria ser mais questionado.

Hoje em dia, o simples fato de demonstrar o que você sente já é visto como cilada. Nenhum passo é natural, todas as coisas são programas e descartadas simplesmente porque a pessoa provavelmente não entendeu o script. (Isso daria um ótimo texto pra depois, quem sabe?) Ou até mesmo no caso de relações ja consolidadas, o ciúme e a posse passam a ser sempre muletas da relação, tudo é feito na base da desconfiança e há uma enorme dependência na relação, sem contar a intensa cobrança pela reciprocidade, de modo que todo o sentimento tem que ser igualmente sentido pelas pessoas que compõe o casal.

Dificilmente alguém vai entender como tudo isso funciona e isso que dá a graça para a coisa. Só você e quem decide embarcar nessa aventura (não teria adjetivo melhor pra tal) contigo sabem como as coisas devem funcionar. E tá longe de ser algo semelhante as comédias românticas de Hollywood.

A cada relação um mundo novo se abre e até mesmo a relação de muito tempo pode assumir novos papeis que não mais os antigos. A gente muda, o mudo muda com a gente e em muitos momentos viver da forma forma não faz nenhum sentido. Vou ser o louco dos significados novamente porque nesse caso faz super sentido, acompanhe:

relação

substantivo feminino
vinculação de alguma ordem entre pessoas, fatos ou coisas; ligação, conexão, vínculo.

Partindo desse significado, as conexões são feitas de formas orgânicas, onde coisas funcionam e deixam de funcionar com a mesma rapidez. Com isso a gente cresce, entende coisas novas e busca o melhor (podendo ser ele o que for).

Ninguém além de você – e eventualmente quem está vivendo com você – tem o direito de te dizer que caminhos são certos ou errados. Por mais que te digam e as vezes te forcem a entender o contrário. Antes de ouvir aquele conselho de amigos pra fazer aquele joguinho bobo, ou dispensar aquela pessoa porque faltou algo que nem você sabe porque, ou comparar a sua relação com a de seus amigos ou até mesmo com filmes e séries de TV, preste atenção se não estão te dizendo como você deve amar.

Busque a individualidade, busque o lado único de tudo isso, porque é isso que faz com que qualquer relação seja incrível. Em algum momento isso – de partir de um ideal distante ou construído de uma relação – aconteceu ou ainda acontece e você nem se deu conta, então questione-se e evite reproduções sem sentido.

Conselhos são sempre importantes, porque através da empatia a gente também aprende, mas é importante criar um filtro, uma garantia que sua mente não será levada pelos milhares de conceitos tortos que a gente acaba absorvendo diariamente. Observe as relações próximas como amizade, por exemplo, as pessoas gostam de você pelo que você é e não esperam que você seja diferente daqui que você apresenta.

Acima de tudo, faça o seu! É tudo muito breve pra gente se prender em formatos que a gente nem sabe porque tá seguindo.

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