Imaginem: Você está com alguém, essa pessoa é aquela com quem sempre quis ficar, e estão num estabelecimento comercial privado ou público, no qual há outras pessoas fazendo suas atividades corriqueiras, desejando-se, sabendo, entretanto, das regras e das punições: como você faria?
As histórias de banheiros em restaurantes, boates ou coisas do tipo? Inúmeras, porém, dispensemos. E eu sei que você já foi. Nas faculdades, por exemplo, corre no boca-a-boca, e que não são beijos, os lugares – pouco – secretos para se entregarem ao fast-foda; lembro bem que onde eu estudei era o oitavo andar, na verdade, suas escadarias, afinal, quem tinha disposição de subir oito andares de escada? Nem a segurança. Legalizado por natureza, fazia-se de motel para uma troca de carícias bem apressada. Vez ou outra se arranjava uma sala, que só tinha utilidade para um curso matutino ou para reprovados numa determinada matéria, e então se podia trocar até algumas palavras. Fato: Ninguém passava vontade.
Das mais inusitadas, e nem foram as paredes que me contaram, parecerá aquilo de o-meu-amigo-tem-um-primo-que-tem-um-amigo que tanto usamos para acobertar algumas coisas que fazemos, mas garanto que me foi contado, logo, muito daqui é um exercício de imaginação – só não direi qual parte.
O rapaz havia descido as escadas primeiro e vinha a frente de um grupo desordenado; o professor propusera um exercício um pouco antes aonde os alunos eram reféns de terroristas que haviam invadido o prédio, porém, conseguiam livrar-se de um deles e deveriam sair do local sem que fossem notados. Pé ante pé, todos se esgueiravam pelos corredores, deslizando junto ao comprimento da parede. Claro que faziam menos silêncio do que era necessário, assim, “shhh” era a coisa que mais se ouvia depois barulhos de tiros que o professor usou para conferir mais veracidade.
Aquele que puxava a fila, destacou-se, deixando os demais para trás. Encarava uma porta fechada, daquelas de emergência, corta fogo, com todas suas especificações dentro dos padrões de uma NBR merda qualquer. Imerso naquilo que havia sido proposto, investigou: Abriu a porta cuidadosamente, sem provocar ruídos exagerados, sendo o suficiente para ver o que havia ali dentro. Para situá-los: Era um teatro: não era pomposo, era confortável, novo, ainda que odor não fosse, talvez pela pouca ventilação; dez fileiras – mais ou menos – com poltronas que preenchiam o espaço até bem próximo ao palco, sem cortinas, num piso acarpetado azul.
Numa olhada mais detalhada, talvez na sexta ou sétima fileira de cima para baixo, na quarta ou quinta poltrona da esquerda para a direita, havia um casal. “Porra! Na mesma cadeira?”, essa foi minha indignação ao saber disso, as cadeiras são apertadas, “juro!”, ele me garantiu. O rapaz que via aquilo tudo travou, ou vocês nunca ficaram boquiabertos ao ver um casal dessa forma? Somos educados a resguardar nossa intimidade. Saia por aí exibindo o pau e o girando, ninguém ficará hipnotizado, mas incrédulo com aquilo. Prefiro quem fica indiferente, trava. Há quem faça pior: Faz graça, picardia, expõe. Bando de empata foda de merda. Eles existem aos montes.
Os cabelos cobriam parte do lado direito do rosto dela, estando o restante colocado para trás da orelha esquerda; não dava para ver além do cabelo ajeitado em forma de topete dele; ela estava por cima, montada, a amazona, como define o kama sutra; ele a puxava pela nuca para beijá-la. A mão direita dela desceu pelo rosto dele, passou pelo peito, barriga, alcançou calça… E voilà: lá ficou. Pelo braço que relaxava e tencionava e os movimentos repetitivos, era óbvio: apertou, bateu, relaxou. Um espancamento do caralho, pobre rapaz. Ela escondia ainda mais seu rosto em beijos calorosos e frenéticos, e empurrava a cabeça dele para trás, apoiando-a no encosto, mostrando ótima sincronia. As mãos dele, contudo, não eram mais visíveis. “Cê tá de zoeira”, “é, sério, mano!”, ele continuou. Havia um movimento ali, um quadril que dançava com muito ritmo, mas pouco à vontade, perdia-se, então ela o ajeitou, e aí se encontrou. É como se um diretor teatral tivesse gritado na orelha dela “AGUDIZA, PORRA, AGUDIZA”: Os movimentos passaram a se estender e tinha intensidade, tinham mais tesão do que a vontade poderia ter revelado, o próprio rosto denotava isso: mirava o teto de olhos fechados, com as mãos em torno do pescoço dele, que agora a segurava pela cintura, numa feição nítida de quem sabe o que é prazer. Escorregava por ele, então o beijava. Parada e transição. Respirava. Retomava. Boca aberta que buscava o ar e peito mostrando estar ofegante. Os lábios voltavam aos deles, e depois ao pescoço, sugando uma porção de pele, para ir ao encontro do lóbulo da orelha, então se deixava ser beijada no pescoço propositadamente a mostra, enquanto a mãos dele antes invisíveis agora se descontrolavam pelo corpo com vigor, apertando-a em cada centímetro, tateando, investigando no melhor sentido que a palavra descobrir pode ter. Havia acontecimento, uma cena bem impactante, claro, ainda mais ao vivo e sem ensaio, como toda boa pegação costuma ser – embora muito de nós ensaiemos algumas mentalmente, e não neguem.
Passado o choque desses minutos, o rapaz teve só uma reação: fechou a porta. O fechar foi menos discreto que o abrir, produziu um som sutil, mas perceptível, e isso teria chamado a atenção de terroristas se ali existissem. Esbaforido, correu para contar para todos, que correram para ver o que já não havia mais para ser visto. Simples: sumiu.
Na semana seguinte, o teatro encontrava-se trancado após a última aula.
Quando abri o conto, usei uma técnica do Stanislavski, mas não me aprofundarei nisso. E fecho do mesmo jeito: Como vocês fariam? Deixe aflorar sua imaginação e sua personagem mais devassa.
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