Eu vi o momento que você se descuidou e deixou meu coração cair. A queda livre estava em câmera lenta e eu nada podia fazer, salvo pôr as mãos na cabeça e abrir a boca num ‘o’ – ato que também pareceu ser executado com lentidão. Se eu pudesse, me jogaria para tentar segurá-lo, mas eu estava totalmente fora de alcance. Você se descuidou. Meu coração caiu. E se espatifou em mil pedaços.
Tinham cacos de mim por todos os lados. A lágrima caiu no instante que meu coração tocou no chão. Você sussurrou ‘desculpa’. Eu me ajoelhei e comecei a pegar cada caquinho que encontrava. Você ficou parado, olhando a cena. Eu juntei boa parte, tentei juntar os pedaços. Tinha peça faltando. Estava ficando tudo disforme, mas era meu coração ainda. Eu precisava dele, remendado como fosse.
Jurei que isso nunca aconteceria, sabe? Você tinha as mãos grandes e firmes, então eu te dei meu coração sem nem pensar duas vezes. Parecia mais seguro contigo do que com a minha mania desastrada de esbarrar nas coisas. Eu vi o jeito que você recebeu meu coração, sem pestanejar, o que me fez crer que era a coisa mais que certa a se fazer. Respirei aliviada, tudo ficaria bem.
Mas você se descuidou. O coração caiu junto com a lágrima e espatifou em mil pedaços. Eu ajoelhei para recolher meus cacos. Você me sussurrou ‘desculpa’. Você ficou parado, olhando a cena. Meu coração estava remendado e faltava uma parte. Você deu as costas e foi embora.
Eu fiquei. Meu coração espatifou de novo. E além das partes que já tinham se perdido, faltou uma parte maior – e que era tua.
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