[Você pode ler este texto ao som de Goodbye To You]
Você foi um dos meus primeiros amigos do sexo oposto. Quando comecei o colegial era tudo diferente, cidade nova, fichário novo, mesmo CD da Michelle Branch no discman. E você era todo tímido, mas a cara do Harry Potter, e aí não teve jeito: viramos amigos.
A gente se conquistou devagar, pelo ICQ. Eram muitas conversas sobre música e coisas nerds no geral. Foram muitos CDs gravados pra você com uns rocks que jamais teria ouvido de outra forma, e muitas rodas de conversa no intervalo.
Teve aquele momento que você achou que a gente talvez pudesse ser outra coisa, mas eu fui bem treinada desde cedo a manter os dois pés atrás, e você partiu pra próxima, mas nossa amizade ficou ali. Até quando você namorou brevemente uma das minhas melhores amigas, um relacionamento que apoiei demais, apesar do ciúmes de ter que dividir você. Mas esse também passou e a vida seguiu.
No terceiro ano já éramos inseparáveis, era conversa na sala, no MSN, por SMS e até por e-mail, não tinha tempo ruim e nunca faltava assunto. E eu sentia segurança nessa amizade, acreditava com todas as minhas forças que ia levar você pra vida toda. Já até pensava em dar seu nome pro meu futuro filho, só pra te homenagear (pra ser sincera nunca desisti disso).
Mas aí aconteceu uma coisa besta que até hoje não faz sentido: eu briguei com a outra melhor amiga, a que se tornaria sua mulher. Já revisitei esse assunto um milhão de vezes e nunca admiti que lembrava o motivo da briga, mas eu lembro sim. Ela me humilhou porque eu nunca tinha beijado um garoto.
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Era um assunto muito delicado pra mim, você sabia disso e ela também. Mas ela não ligou, esfregou mesmo na minha cara, e eu, no auge dos meus 16 anos, me senti um lixo. Que tipo de menina de 16 anos nunca beijou um garoto? Euzinha.
Infelizmente o que me faltava de experiência me sobrava em articulação de palavras, e lembro de ter escrito uma carta pra ela que era pra machucar de verdade. Talvez numa proporção maior do que eu tinha sido machucada, mas o fato é que nunca mais nos falamos, só guardamos o rancor de uma amizade destruída.
Nessa época vocês já namoravam, mas o colegial acabou e a gente sobreviveu. Vocês terminaram um tempo e voltamos a ser mais próximos. Você me visitou na faculdade, eu conheci o seu quarto numa república em Piracicaba. Parecia que ia dar tudo certo, mas a vida aconteceu, e a gente se distanciou de novo. Teve um ou outro aniversário, algumas ligações, e morreu, mas eu nunca esqueci.
Tenho esse problema de foco nas amizades, sou muito intensa em tudo que faço, e ninguém me recebe pela metade, é tudo ou nada. Mas ficou ali uma vontade de ter você na minha vida, mesmo que de longe, e entrei em contato pra ver como você estava. Nenhuma resposta. Tentei de novo e nada. Adicionei no Facebook e devo estar até hoje aguardando uma resposta.
Aí fiz o que toda pessoa faria nesse caso, mandei mensagem pra garota que já era sua noiva. E ela disse que não tinha interesse em me ter na vida dela e também não me queria na sua. E você mandou uma mensagem dizendo que era isso mesmo, ela não queria e acabou.
Desde então, eu sofro um pouquinho sempre que lembro de você, como enquanto escrevo esse texto. Hoje foi aniversário de um amigo dessa época e eu estava tentando dar parabéns quando vi a foto dela vestida de noiva. Entrei no modo Xeroque Rolmes e vi que vocês se casaram no ano passado. E eu nem sabia.
De algum modo uma pessoa que tem um pedacinho de mim nunca mais vai falar besteira comigo, não vai ver se eu realmente tiver um filho com o nome dele, não vai saber se eu ainda durmo com a camiseta do Harry Potter que ele esqueceu em casa e eu nunca mais devolvi.
Uma vez contei pra alguém que eu me sentia mais eu com você. Não consigo mais lembrar como esse eu era, mas ela e eu sentimos sua falta muito mais do que gostaríamos. Tenho outros amigos, um vida completamente diferente do que jamais imaginei. Mas ainda falta você nela.
Essa música do texto pra mim sempre será sua; você foi a única coisa que eu tentei segurar do meu passado. E como não consegui, sigo lidando da mesma forma que lido com meus sentimentos mais confusos: coloco tudo pra fora esperando que isso ajude a fazer um pouco mais de sentido e um pouco menos de saudade.
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