A gente já deveria ter se acostumado com despedidas


[Você pode ler este texto ao som de I Wish You Were Here]

Última chamada para o portão de embarque. Essa é uma daquelas horas em que não dá pra ser racional, não dá pra pensar com um pingo de sensatez porque a gente nunca está preparado pra isso. Despedidas fazem parte da vida da gente o tempo inteiro, nós é que nunca aprendemos a lidar com elas. Da mesma maneira que vai ser penoso pra caramba lidar sem você por aqui.

A cada vez que eu te olho e percebo que você tá indo, que você já foi e eu nem percebi, que você vai e talvez a gente nunca mais se veja, eu sangro. Sangro por dentro, meu bem, e não é aquele sangrar natural do coração bombeando as artérias, é um sangrar doído, uma hemorragia diferente que foge daquelas coisas todas que a medicina tenta entender porque é só da gente. E você não sabe como isso me devora por dentro, como isso me consome aos poucos por saber que você vai embora pra ganhar o mundo enquanto eu ganho esse vazio doído no peito.

É que eu tenho um medo gigante de que você descubra que o teu lar é lá, não aqui; que os meus braços foram só uma moradia passageira naquela tarde em que eu me fiz abrigo pra você. Porque quando eu tocava na tua mão e você me olha no fundo dos olhos no meio daquela multidão, é que eu sentia o mundo inteiro ao alcance dos meus dedos, como se ele nunca fosse fugir dali. Como se o mundo não levasse e trouxesse a gente de volta o tempo inteiro; como se ele nunca fosse te levar de mim.

Pra quem é que eu compro chocolates a partir de agora? Pra quais olhos eu olho no meio daquele café movimentado enquanto o mundo inteiro passa lá fora e a gente nem vê? Pra quem é que eu ligo e digo que vou no fim de semana, que inventei uma rinite brava pra fugir do plantão e poder te encontrar num aeroporto ou num terminal rodoviário qualquer? Como é que eu faço pra me despedir de você sem que você leve um pedaço inteiro de mim pro outro lado do mundo?

Última chamada para o portão de embarque. Me esvazio de você e me inundo desse vazio nada bonito que preenche o meu peito. Beijo tua testa enquanto procuro pela janela do terminal alguma estrela cadente que realinhe as minhas órbitas e realize meu pedido de te fazer ficar – ou que me leve junto, tanto faz; que não me deixe aqui sem você. Te olho nos olhos e digo que eu fico. Fico, mas meu coração vai sagrando, embrulhado na tua mala. Fico em carne e osso, porque meu peito não vai se adaptar sem você aqui. Te olho e te digo que não te abandono, meu bem, que vou estar que lá quando você precisar de fuga e procurar por alguma estrela qualquer no teu céu. Porque daqui, do outro lado do mundo, eu prometo, juro de pé junto que direciono o sol e foco todas minhas forças e toda claridade pra iluminar a tua estrela e clarear teu céu. Pra você se esquecer do oceano, dos prédios, das pessoas e do mundo inteiro que separa a gente. Pra você fechar os olhos e se lembrar de mim.

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