Hoje eu desisti de novo de você


Eu me matriculei naquele curso para te esquecer e no meio do caminho acabamos nos envolvendo mais ainda. Aí não deu certo e eu desisti. E aí resolvemos tentar. Foi incrível cada momento, meus olhos brilhavam quando a gente conversava. Eu não sentia isso desde… 2009? Eu não tinha me apaixonado mais, sabe? Nossas ideias, nossas ambições, a maneira como você terminava nossas mensagens compartilhando o nosso meme favorito do Carreta Furacão.

Aí não deu certo, e eu desisti. E aí resolvemos tentar de novo.

Era incrível, meus olhos até brilhavam quando falava com você. Tudo encaixava tão bem, nossas ideias, nossos interesses. Até os mesmos livros na prateleira, os mesmos episódios resenhados naquele site de classificar. Eu não lembro de ter conhecido alguém tão incrível em toda minha vida.

Aí não deu certo, e eu desisti. E resolvemos tentar de novo.

Agora era um pouco menos incrível, meus olhos não brilhavam mais, mas você ainda me fazia rir. Aprendi desde cedo a nunca deixar ir embora alguém que me faça rir até engasgar. Fazia tanto sentido tudo que tava acontecendo. Mas nunca acontecia. Nunca ia até o fim. Por mais que a gente quisesse, não deu.

E foram tantas coisas erradas no meio do caminho. Aí não deu certo, e eu desisti.

E resolvemos tentar de novo.

Agora meus olhos estavam baixos, o frio na barriga deu lugar a sentimentos medíocres que eu nem tinha mais. Insegurança, ansiedade, pavor. Por que nunca dá certo? Será que eu fiz algo de errado? Aprendi desde cedo que alguém que te ama não necessariamente é alguém que vai te fazer bem.

O amor é fácil, né? É convivência, companheirismo. Ele brota de repente… o amor. As ações falam muito mais. A falta delas, então… aprendi desde cedo que se algo faz mais mal que bem é porque tem alguma coisa errada.

E então eu desisti. De novo. De vez. E só a ideia de entrar no Tinder me causava náuseas, a ideia de beijar alguém de novo me causava náuseas, como se a minha única vontade fosse de passar o resto da vida substituindo desejo carnal por gelatina ou maratona na Netflix.

E aí veio o ódio, a raiva. Sabe? A vontade de te machucar, de me apegar a qualquer coisa que você fez no passado E gritar “ah lá, tá vendo porque você derrubou aquele suco no chão aquele dia?”. Essa hora eu sabia que tinha sido melhor estar longe, porque a última coisa que a gente precisa é transformar a história mais linda que a gente construiu numa relação que se alimenta de ódio. E esse ódio era só saudade disfarçada e falta de traquejo esmagando e manchando as nossas mãos de sangue.

E você nem é um cara ruim, apesar do mal que me faz. E eu nem sou uma menina ruim, apesar do mal que te fiz. A gente tinha tudo para dar certo, mas algo aconteceu no meio do caminho. Esse algo chamava nós.

Superar uma pessoa é tão difícil que uma vez me matriculei num curso de lantejoulas. Eu só queria ocupar minha cabeça com qualquer coisa que não fosse repassar mentalmente cada passo, troca de palavras e a última música que você cantou para mim.

Desistir de você me custou toda a força que eu tinha, mas trouxe de volta a minha paz. Que eu me torture de vez em quando com saudade, que eu me entupa de memórias gostosas, tanto faz, não me importo. Compreender que precisava ir embora foi o primeiro passo para aceitar que um dia passa. Que um dia isso tudo acaba, e que eu posso voltar a habitar a mente e o corpo que sempre me pertenceu, mas que estava destruída demais, triste demais para governar.

Superar uma pessoa é tão difícil que uma vez me matriculei num curso de lantejoulas. Hoje faz 3 meses que aprendi a fazer um bordado lindo, hoje faz 3 meses que não penso em você.

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