Sobre coisas bonitas e corações inquietos


[Você pode ler este texto ao som de Mirrors – Justin Timberlake]

Um beijo na garagem, te peço pra ficar de novo com seu colar, você quer usá-lo um tempo porque ele passou muito tempo comigo. Tudo bem. Outro beijo na garagem. Você tira o colar e põe em mim. Sussurra boa noite, tá? Digo boa noite. Observo você se afastar ao pé da escada. Senti meu coração bater forte nessa hora. É tão bonito sentir o que eu sinto por você e faz tanto tempo que ninguém me faz sentir assim. Todas as coisas bonitas que você já disse, os momentos bonitos de nós dois. Eu disse não quero me apaixonar por você, você também não. Não é hora. Mas tem hora? Me dá um medo. Você pergunta que foi, tá apaixonada? Eu digo não. E você? Um pouco. Um pouco quanto? Do seu tamanho, assim.

Do meu tamanho é bastante. Eu disse que não mas é claro que sim. Mas é pouco. Não falo pra não te preocupar. Do tamanho dos silêncios entre os nossos beijos, do tamanho do momento em que a gente para e só sente a respiração um do outro pertinho. Mas é enorme esse momento, eu sei. Você fez tudo ficar tão bonito. Me dá um medo. Um medo enorme de tudo que pode vir a ser, a sentir, ou a não ser. Medo de gostar de você demais. Medo de te amar. Eu chorei ontem às quatro da manhã na janela do meu quarto porque eu tenho medo de querer ser algo que eu não posso ser pra você. Chorei porque ainda é tudo muito estranho e confuso. Chorei um pouquinho de inveja de quem já foi muito importante na sua vida. De quem ficou do seu lado um tempão, de quem tava na sua casa quando você ligou só pra dizer mãe, não tenho muito tempo mas só liguei pra dizer que tô bem e que amo vocês. De quem te viu vencer. De quem te viu sem máscara, te viu por inteiro, te viu sem roupa. Tenho medo de nunca chegar nesse lugar porque eu quero tanto. Eu quero muito. E é ruim admitir isso assim “eu quero muito”. A cada segundo eu te gosto tanto. Quando você conta as histórias de molequinho eu te gosto tanto e te acho tão lindo. E vendo a maneira como você é amigo do seu pai eu te gosto tanto e gosto tanto dele. É como se eu tivesse deixado as minhas malas do lado de fora da nossa casa pra vestir tudo novo, mas não sei se você pode fazer o mesmo. Tenho medo de ser a coisa certa na hora errada. Você gosta da minha confiança mas eu tenho tanto medo, merda. Eu olho pra pouco tempo atrás e ainda é tudo muito louco. A gente é o certo um pro outro mas acho que fez tudo errado. Eu acho que te quero demais. Talvez eu goste de você mais que eu mesma saiba, pensei hoje quando percebi que o meu corpo tá quase sempre bem juntinho do seu quando você tá do meu lado. Você disse que se morresse na montanha russa ia aparecer na minha vida como naquele filme, Ghost, porque a gente tinha que se conhecer de qualquer jeito. Não sei como vão ser as coisas daqui pra frente. Tenho medo de abrir os olhos e descobrir que você não é nada que eu pensei e de repente as coisas pararem de fazer sentido de novo. Eu gosto da gente junto e me dá saudade antes mesmo de você voltar pra casa. Eu te pergunto como é que você faz isso, hein? Você diz o que? E eu, isso, me faz sentir tudo isso por você. Você faz piada. Você sempre faz piada. Você é bobo. Um babaca, eu te digo. Você é só isso, bobo. Você é bobo e eu quero que você fique aqui pra sempre. Dorme aqui, ó, o ônibus tá demorando mesmo. Fala com meu pai. Não se preocupa, ele vai ser gentil. Não chama ele pelo apelido que você inventou. Chama assim. Aperta forte a mão dele. Aperta forte a minha. Não solta. Deixa seu cheiro pelo meu corpo. Deixa um pouco de você aqui. Amanhã você volta. De novo. Pra mim.

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