Sobre luto romântico, egoísmo e a grande lição de “P.s Eu te amo”.


Casal feliz decide se encontrar para tomar um café no nova Starbucks da cidade. Ele manda SMS pro iPhone dela e ela responde com uma DM no Twitter. Eles se encontram, como sempre se encontraram nesses 5 anos de namoro. Ele pede um café gelado com chocolate, ela pede a conta final do relacionamento deles. Ele não entende o porquê daquilo ter acontecido tão repentinamente, ela nega qualquer mudança, diz que foi por vontade própria.

Imagine a cena. Agora, imagine os próximos meses desse guri. Existem duas formas de ele encarar a situação. A primeira, pensada como solução indolor e quase desumana, é estar ignorar o rompimento e ter partido para outra sem remorsos – isso significa que ele está saindo com todas as modelos de Los Angeles e bebendo Whisky no café da manhã. A segunda forma, a que nos interessa, é ele passar por aquela famosa fase de luto romântico.

O luto romântico se caracteriza pela total incapacidade de se relacionar com outras pessoas, visto que ela ainda pensa na ex – considerada o grande amor da sua vida – de todas as formas possíveis. O luto pode se dar pelo fato de um rompimento inesperado, de uma morte, de uma viagem que interrompe o romance. A grande questão aqui é como se dá essa relação de luto na sua vida.

Caro amigo(a), se você nunca passou por uma situação de achar que nunca encontraria alguém igual àquela norueguesa que contava de 1 a 100 em dez segundos enquanto tomava champanhe só pra te fazer rir, atire a primeira pedra. Tudo bem, isso é perfeitamente compreensível. Neste momento, estamos fragilizados, sem perspectivas de futuros relacionamentos, pensando em tudo o que fizemos para não dar certo, nos agarrando às possibilidades que restaram, muitas vezes bastante remotas.

Por mais que nossos amigos queiram nos ajudar, nos levar a festas, nos mostrar filmes e músicas animadas, nos contar piadas sobre pinguins  entre outros, não vai adiantar muita coisa. Por quê? “Eu estou quase morrendo porque perdi o amor da minha vida”. Não. Porque você está se utilizando de um mecanismo muito recorrente de piedade e conservação chamado “auto-sabotagem”. Essa forma de encarar o fim de um relacionamento é muito mais comum do que se pode imaginar. Você acha que ninguém vai te fazer feliz como ela fez, ninguém vai te chamar de Buzz Lightyear com tanto carinho como ela chamava, ninguém vai te ligar pra lembrar-te de pagar as contas do mês. Você está se agarrando apenas às coisas boas e bastante utópicas que existiam naquela relação. Você afasta pessoas que poderiam ser bem melhores para você ou poderiam acertar onde houve aquele erro. Mas não, cego e teimoso, você rejeita todas as novas opções que o acaso te dá. E isso, meu amigo, é burrice.

A lição que fica disso vem de um dos dramalhões românticos mais conhecidos da atualidade. “P.S Eu te amo” não é só uma história triste com uma cena de funeral que revolucionou a forma como quero ser enterrado, mas também é um grande exemplo de como devemos seguir em frente, mesmo que devagar.  A superação, neste filme, só veio depois de uma longa crise seguida de aceitação. A fossa amorosa à primeira vista parece linda com todas aquelas coisas que fazem parte dela (como ouvir Adele até a morte e mandar SMS bêbado pra ex numa festa mexicana). Mas na verdade ela impede que vejamos como o mundo é bem maior que um fim de relacionamento.

Precisamos de tempo para nos adaptar, é claro. Mas precisamos aceitar a situação que passamos, reconhecer os erros e acertos, tentar nos renovar a partir disso. E nada disso acontece se a gente não aceitar que acabou. O luto em si é necessário para avaliarmos tudo isso. Sou defensor extremo desse período. Mas a extensão dele passa a ser egoísta. E com tantos obstáculos naturais que a gente já encontra por aí, impor mais um a nós mesmos – a auto-sabotagem – faz parecer que estamos admitindo que, realmente, não fomos feitos para dar certo.

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