Ela acorda cedo. Mas não sabe se vai ou fica. Ela liga a TV no canal predileto. E aperta o botão até dar a volta ao mundo da televisão por entre os canais. Ela sorri, e ri, e fecha a cara. Ela vive em um leve estado de lucidez inconsciente. Pega o telefone e pede uma pizza de calabresa. E de chocolate. E Romeu e Julieta. Diz ela que “é pra agradar a todos os gostos que existe em mim mesma”. Ela me liga. E desliga. E retorna a ligação. Diz que me odeia e não consegue viver sem mim. Diz que sente a minha falta, mas que se sente bem, estando longe por essa noite. E se irrita com o meu riso. E se delicia com o meu riso. Ela não sabe o que quer… Ou sabe até demais.
Ela se arruma. E desarruma. E se desarruma arrumada. Se olha no espelho, vira de costas, ri de si mesma e volta a se olhar. Ela é a Paula. A minha Paula. A Paula que ela quiser. Ou então, ela é qualquer outra mulher que queira ser. Porque ela pode ser, desde que queira. E assim o faz.
E eu vivo a observá-la, nesse vai e vem das suas vontades. Nessa sua falta de vontade. Quando ela lê um livro, já começa pelo final. E volta pro começo. Mas sempre para antes de terminar. Ela anda em linha reta. Depois para e começa a ziguezaguear pela rua. E diz: “assim eu sinto como se tivesse escolhido vários caminhos e não um só”. E eu sei que ela só faz isso porque não conseguiria viver se soubesse que só pode seguir um caminho.Ela tem certa multipolaridade centralizada. E diz que não é a única, mas que igual a ela existe nenhuma.
Ela quer o mundo em suas mãos. Mas ela diz que quer somente pôr as mãos no mundo. Ela vai de vermelho. E verde. E azul. E de todas as cores. Ela diz que é pro caso de não gostar de alguma. Num sonho, ela foi pular o muro. Mas não sabia se ficava do lado de cá ou se ia pro lado de lá. Na dúvida, ela quebrou o muro pra não ter que ficar em cima.