Sobre a coincidência ou sobre como mudamos


Eles eram amigos desde crianças. Ela morava no apartamento da frente do dele. Ele morava no apartamento da frente do dela. Eles fizeram natação juntos. Estudaram juntos. Na primeira formatura dos dois, eles estavam sentados um ao lado do outro.

Faziam aniversário no mesmo mês. E cresciam juntos. Tinham os mesmos amigos e estavam sempre nas festas um do lado do outro. Era comum um telefonar pro outro. Mas ela sempre falava mais e ele sempre concordava.

O ensino médio dos dois foi marcado pelo companheirismo e pelas quase 24 horas que passavam juntos. E o primeiro beijo deles foi entre eles. E aí começou o namoro. Era algo de se esperar.

Não paravam sozinhos, não viviam sozinhos. Não conseguiam tal proeza. Eram o casal perfeito, o casal igual, o casal que tinha tudo em comum. E se amavam muito. E se amavam reciprocamente. Até quando chegou a faculdade decidiram seguir pelo mesmo caminho, como sempre. De mãos dadas fizeram escolhas e assim prosseguiram.

Até que um dia, acordaram diferentes. Já não se enxergavam mais no outro. Ela queria ir pra uma festa e ele queria ir ao cinema. Ela queria um mundo pra ela e ele queria um somente dele. Não havia mais união, nem sequer semelhança.  Mas continuaram querendo. E tentaram e tentaram e tentaram… Mas apenas queriam. Já não conseguiam mais se suportar, suportar sua falta de individualidade, sua representação como conjunto. Até nisso eram parecidos: Queriam muito viver sozinhos, queriam muito ser somente deles.

E por querer demais, se esqueceram do outro. E por serem parecidos demais, se tornaram diferentes. E indiferentes.

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