Segundas chances nunca dão certo


Eu apostei errado. E o que mais dói é reconhecer isso. Não é pela perda do tempo ou do investimento. É pela perda da história toda. Aquele momento em que eu paro e me pergunto se não teria sido melhor se nem tivesse tentado. Me alertaram sobre segundas chances e esse nosso modo requentado de fazer as coisas. Não dei ouvidos a eles e me cansei no exato momento em que disseram que a nossa engrenagem já tinha enferrujado porque passou muito tempo sem funcionar. Fui mais teimoso ainda e tentei mais uma vez. À força. Na marra. Com vontade e empurrões até as coisas voltarem a girar no tranco.

Amor que já passou é meio como aquela camisa velha que a gente ainda guarda com carinho. Não é mais bonita como antes, não cai tão bem quanto antes e também não tem mais tanta utilidade assim. A gente vestiu por algum tempo, deixou que todos nos vissem com ela, passou por bons e maus momentos com ela. E daí ela simplesmente foi tirada da gaveta de cima e colocada no fundo do armário. Mas a gente não descansou. Foram algumas fotos e talvez o sorriso machucado do outro que aparecia de vez em quando. Foram as notícias de que você ia bem, obrigado. Foi saudade e a vontade de ter você aqui de novo. A gente alongou aquele ponto final e forçou um pouco o espaço para fazer caber algumas reticências.

E a camisa velha?  Se a gente ainda tirar do fundo do armário onde ela está escondida, a gente vai se agarrar. Nos agarramos. Maldito conselho. Maldito destino. A gente se baseia o tempo todo no otimismo das segundas e terceiras e quartas chances. Só que chega uma hora que a gente precisa admitir que não dá mais. Que acabou. Que o nosso amor requentado já passou da validade e não serve mais pra ser usado de vez em quando. O algodão da camisa é familiar, o conforto é melhor do que qualquer outro tecido e existem lugares e lembranças embutidos naquela peça de roupa. Deveria jogar fora de uma vez por todas. Mas não sei se eu consigo jogar fora assim. O apego quer que eu continue vestindo essa camisa pelo tempo que ainda puder.

O problema é olhar pra você e dizer que eu vou embora. E te encontrar por aí amanhã com aquele olhar de quem acreditou mais uma vez em nós. Como se eu tivesse feito uma promessa furada. Como se eu não tivesse perdido nada nessa decisão. O problema é pensar que o erro foi duplicado. E dividido por dois. Eu e você na corda bamba das segundas chances cheios de boas intenções. O pior nem é o erro mesmo, a gente sabe. O pior é o acerto que não foi revogado, convocado de volta ao fundo do armário. E agir como dois conhecidos que compartilharam duas vidas. Uma tentativa e um outro fracasso. A dor agora é dor repetida. A sensação que acompanha o empacotamento das caixas mais uma vez.

A gente já viveu isso e repetir parece duplamente doloroso. Se não bastasse o rumo, a gente tinha que perder o jeito? Segundas chances deveriam vir com um aviso de “Cuidado. Frágil!” na caixa de entrega. E deveria ser proibido que nos dessem outras chances além dessas. Nossos contos não foram feitos para serem revividos, nem reinterpretados. Mas amor interrompido tem dessas coisas de remendo. Ficam as sobras, a gente costura. Ficam as sombras, a gente esconde. Fica a falta de novidade e a gente aprende a viver de velhas notícias. Mas amor mesmo é aquele que desperta a gente todo dia. Exige frescor e não suporta repeteco. Dessa outra vez, eles não alteraram o script. Deram uma série conhecida pra gente interpretar. Você conhece as cenas e eu também. Mas a gente não admite que o final esteja ali, tão certo como no roteiro. A gente bateu o pé e tentou mudar o rumo. E ficamos apenas na tentativa.


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bovonew

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