Paradoxo.


Você e essa discussão de até aonde eu iria pra você ver que isso é amor. Acho que a gente nunca vai chegar num ponto comum quando fala sobre isso. Até quando eu abro a porra da porta do táxi pra te ver indo embora com outro sujeito qualquer que não seja eu, é amor. Altruísta e egoísta ao mesmo tempo. Eu sempre vou embora e sei que não posso te pedir pra ficar pra sempre me esperando numa sala de estar com um sorriso congelado no rosto. É a mesma coisa que te transformar em manequim com teias de aranha e aquele olhar triste das vitrines abandonadas da cidade.

Não sou cruel e muito menos valente o suficiente pra lutar por você e desistir de tudo o que eu construí e o que você construiu individualmente. A gente se entende quando deita de costas no chão e fica lado a lado em silêncio olhando o teto. Você não vê a infiltração e as rachaduras da casa como eu. Você só vê um teto e uma respiração controlada e abafada do teu lado que pertence a mim. Eu sei que você é uma mulher que não se importa com os problemas mais superficiais da nossa relação e que você queria mesmo é que eu tomasse uma atitude e fosse atrás de você de vez, te segurasse antes de entrar em qualquer avião e te arrancasse um beijo daqueles que filme nenhum mostrou até hoje. Mas eu sou covarde e prefiro te amar de um jeito meio brusco e meio tolo. De um jeito que te deixa ir e ainda compra as passagens. De um jeito que não te prende a um lugar vazio porque eu nunca pertenci a lugar nenhum nessa casa.

Eu abro mão de você de uma forma carinhosa até. Você me afaga e eu mato esse amor que você sente porque você nunca vai poder contar comigo direito. Não sei se é insegurança ou se é só coisa de homem com alma de menino. Não sei se vou ou fico, não sei se te mantenho por perto sabendo que posso te fazer sofrer ou se te faço sofrer por não te manter por perto. De um jeito ou do outro eu sou errado demais pra que você possa acreditar que te amo. Incoerente e sem nexo nenhum. Sem discussões. Mas é triste ver o brilho dos teus olhos quando a gente finalmente se reencontra depois de eu te ligar às duas da manhã pra dizer que tô chegando.

Dessa vez o táxi tem destino apenas de ida. Você tomou coragem e mostrou que a menina dos seus olhos decidiu tirar umas férias e deixar uma mulher decidida no lugar. Enfurecida, machucada e completamente certa do que quer. Você resolveu ir embora de vez e se despedir da minha covardia. Justo. Também não gosto de gente indecisa que diz que ama e faz completamente o contrário. Meu jeito errado demais de amar podia ter matado nós dois. E espero que esse cara que você vai achar em algum lugar do mundo possa ter a sorte de te encontrar com o coração aberto e pronta pra outra. Eu sei que fiz um baita rombo e que merecia ser chamado de filho da puta pelo resto da vida. Mas é melhor assim. E você pode me fazer um baita de um favor, hein. Se algum dia te perguntarem que gosto é esse de sentimento morto nos teus lábios (esse gosto de saudades, arrependimento e decisão), você pode responder: “Simples: o meu grande amor me matou uma vez. Aceitar o novo amor que me abraça é uma chance de voltar a viver”.

E que ele aceite o desafio de te trazer de volta à vida. Espero que você possa confiar quando o seu novo amor for puxar a cadeira. Não, ele não está abrindo a porta desse táxi para te deixar ir embora de vez. Não, ele não está abrindo mão de você pra sempre por algum medo estúpido que nem ele mesmo sabe explicar. Não, ele está sendo gentil. Mais gentil do que eu um dia poderia ter sido ao te prometer um abraço.

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