Como eu me apaixonei à primeira vista por você.


Não foi tão difícil assim, vai. Você tinha todos os encantos necessários para chamar a minha atenção e a atenção de todas as mulheres da cidade. Você era um daqueles bonitões de terno e gravata e sorriso grudado no rosto que mamãe não poria defeito nenhum. Ela não é nem louca de colocar algum defeito em você. Eu me lembro do dia como se fosse ontem. E não venha dizer que meu relato é exagerado ou que você não vestia nenhuma das cores que eu vi. O que importa é como os meus olhos te fotografaram no momento em que aquilo aconteceu. Ou como a minha imaginação recordou a história, tanto faz.

Papai sempre me disse que eu era dessas loucas que sofriam de amor precoce. Batia o olho num cara qualquer e pronto. Não havia santo que me fizesse sentir o contrário. Acho que as minhas borboletas no estômago eram de estimação desde criança. Elas ficavam por perto e apareciam ao primeiro sinal de que eu iria me apaixonar. Elas sempre apareciam. Papai também dizia aos amigos para não me deixarem perto dos filhos dele. Ele e aquela maldita mania de falar tudo em inglês por não encontrar palavra melhor na nossa língua. Heartbreaker. Uma calúnia. Só porque eu sou do tipo que afugenta as borboletas logo depois que se cansa delas no estômago. Na verdade, eu acho que elas não foram feitas pra mim. Me dão azia e mal estar. Além de achar sempre piegas esse termo e a utilização dele em larga escala por metade da humanidade.

Mas voltemos a você. Acho que não tenho muitos detalhes do tal dia. Era sete de setembro de dois mil e onze e o relógio marcava umas treze e quarenta. Você ia para o trabalho com a sua maleta preta de agente secreto e eu entrei no metrô lotado odiando o mundo pela terceira vez só naquele dia. Sua gravata tava torta. Bobinho. Eu teria ajeitado se nós não estivéssemos separados por algumas dezenas de pessoas que me espremiam e passavam as mãos nas minhas pernas ocasionalmente. Miseráveis! Queriam nos separar, amor. Duas estações e o vagão esvaziou. Parei do seu lado e já detestava os seus fones de ouvido e a música que você ouvia. The Killers àquela hora da tarde? E ainda era uma música que não falava nada sobre mim. Mas você não ligou e abriu um sorriso enquanto falava ao telefone, provavelmente tímido demais para vir falar comigo. Mas eu já tinha sacado seus olhares. Esbarraram em mim na saída da outra estação e foi aí que tudo aconteceu. Meu celular caiu e você o pegou pra mim olhando dentro dos meus olhos e tocando a minha mão. E a partir daí eu já sabia como seriam as nossas noites de terça-feira com pizza e música eletrônica que você detestava. Já sabia que você me chamaria de neurótica todas as vezes em que eu aparecesse de surpresa no seu trabalho só pra te dar um beijinho. Já sabia como seriam a cor dos olhos dos bebês roubando um pouco do seu verde e um pouco do meu azul. Já sabia que você só esperaria uns dois anos até eu terminar minha especialização em medicina para me pedir em casamento. Eu já sabia como seriam as noites sem sono depois de alguma briga por motivos fúteis ou por conta daquela sua viagem de negócios. Já sabia como seria amar você como se a única coisa que importasse fosse nós dois e nada mais.

Eu já sabia como seria tudo isso se você tivesse vindo falar comigo ao invés de só ter me entregado o celular. Nem um oi, meu amor. E você desceu na estação seguinte sem nem retribuir o meu sorriso bobo. Foi um absurdo você ter deixado eu me apaixonar por você naqueles quinze minutos e nem me dar o seu nome ou telefone. Bem que papai me disse que homem nenhum serviria para mim e pro meu amor à primeira vista. E já faz mais de vinte e tantos anos que ele tem acertado na mosca. Nenhum de vocês aguenta a pressão dos meus amores imaginados e parece que já saem correndo antes mesmo de saber o que eu reservei pro nosso futuro. Homens são todos iguais mesmo. É por isso que eu dispenso as borboletas dia sim, dia não. Senão elas cansam e aquilo só me dá mais azia ainda. Bem, você poderia ter sido o amor da minha vida, mas não foi. Você poderia ter sido tudo aquilo que um dia eu sonhei, mas não foi. Você acabou com o nosso “pra sempre” quando me deixou sair do vagão sem ter me parado. Mas até que foi bom, sabe? Porque no momento exato em que eu entrei naquela lojinha de cds da esquina da rua cinco com a três, eu encontrei o meu par perfeito. E ele era bem melhor que você, hein. Ele ouvia The Smiths e, provavelmente, seria o amor da minha vida dali a quinze minutos. Ah, e mandei chamar as borboletas de volta. Porque eu nunca me engano quando encontro alguém assim.

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