Proximidade.


É mais difícil para mim do que eu previa. Sabe, eu estou aprendendo a deixar de ser egoísta por você. E não digo que ache isso ruim, pelo contrário. Mas nunca achei que eu fosse ser assim, tão teu, sem nem ligar se eu sou mais ou menos meu. E é ainda mais difícil porque eu tento te entender. Eu tento entender cada mudança de posição dos teus lábios, cada entonação diferente do que você me fala. Eu tento entender como foi que eu cheguei ao seu mundo.

Eu tento entender se consigo realmente te entender. Se eu te vejo louca, desvairada, completamente sem razão… Ou se te vejo fria, sem emoções, completamente vazia. Foi você quem me ensinou que você não tem meios-termos. É, você mesma, no mesmo instante em que questionou a grafia desse termo.

Eu fico pensando do que vou te chamar. Não quero repetir nenhum apelido carinhoso que ache válido. Aliás, acho apelidos carinhosos extremamente bregas. Mas, meu bem, eu não poderia deixar de achar graça ao pronunciá-lo a você com ternura. E enquanto eu fumo meus cigarros, entre a fumaça que sai pelos meus dedos, eu vejo palavras que nunca te disse. E agora você está tão perto e eu ainda resisto em dizer. Não sei se é meu receio em entrar de cabeça nisso tudo ou meu lado ator me ajudando a encenar que pareço mais frio do que realmente sou.

Tão perto que poderíamos começar uma guerra. Guerra contra o que sempre tive como barreiras de todas elas. Guerra contra qualquer um que me fizesse sair da minha zona de conforto. Guerra contra eu mesmo que me traía ao renunciar aos meus pedidos desesperados para que não sentisse nada. Guerra contra tudo o que eu te prometi quando você me disse que o problema era quando gostavam demais de você.

Mas, sabe… Agora eu te abraço enquanto penso nisso tudo. Eu te agarro com garras e sorrisos enquanto posso te ter aqui perto. E tento te trazer pra mais perto a cada dia que passa. Eu já abri minhas janelas pra você mesmo. Eu só tenho que aprender que as coisas são muito mais diferentes vistas de perto. E agora, eu deixo de ser apenas narrador dessa estória. Virei teu personagem. Personagem esse que, por mais encenado que eu consigo fazê-lo, vai ser sempre o mais perto do real de mim que conseguirei chegar. Curioso falarmos sobre uma estória quando eu raramente escrevo sobre você. Acho que, quando se vive uma estória, não se consegue contá-la de imediato. Por isso eu tenho tanta dificuldade em falar sobre você: porque estou tentando te viver.

E que esse devaneio de meia-noite chegue sem pressa às tuas mãos. Vou deitar essa carta na nossa cabeceira, deixá-la descansar. Em paz, sem perturbações, sem turbulência. Vou deixá-la saber a hora em que precisa ser aberta. E, quanto a nós, nos deitemos e apreciemos a vista. O céu anda mais estrelado do que o de costume. E nesse céu de estrelas, eu realizo um pedido: que seja terno enquanto dure.

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