Não se apaixone por mim


Aos moços de plantão, deixo o meu aviso: é perigoso. E nem falo da conotação sensual que esse reclame pode ter. Desse ar de desafio que estala no céu da boca e os atiça ainda mais. Não tem uma permissão subversiva que pede que vocês avancem. É sincero e cauteloso: não tentem me ganhar em qualquer dimensão romântica que não seja a minha.

É que eu tenho medo – e um certo receio – de feri-los em campo de batalha. Eu sou uma dessas guerras que não foram feitas para serem ganhadas. Eu fui feita pra durar até que algum fator externo – que não é você – me fizesse sossegar num marasmo bacana.

O meu processo de gostar de alguém não é tão simples assim. E eu me decepciono a cada nova tentativa de quem vem tentar alguma coisa. De quem assume a coragem de bater umas barreiras, nadar depois de uns naufrágios, dizer que está aqui por mim. Isso dói tanto. A angústia de não poder fazer nada quanto a isso me dói mais do que aos bravos cavalheiros que tentam me fazer sentir algo. Mas é que. Eu não consigo. Eles não são o tal cara que vai revirar o meu mundo e me fazer querer alguma coisa que vá além da minha zona de conforto. Mas eu tento.

Eu tento abraçar aos poucos, mas me faltam afagos. As mãos não moldam os cabelos deles, nem se entrelaçam da forma que eu queria. Não tem rubor no meu rosto, nem aquela pontada de ciúme bobo que indica alguma coisa boa. Eles vêm com tudo e eu vou com a metade. Não consigo lidar com inteiros quando os inteiros não partem de mim. Não é que eu não seja conquistável, moço. É que você vai se machucar sempre que eu disser que tentei – e isso é uma verdade. Mas você não me balançou. Não me tirou a respiração por alguns segundos, nem me fez pensar em ligar no meio da madrugada pra ouvir a sua voz. Você não me causou tremores – e nem me fez acreditar que você poderia ser a melhor coisa do mundo. A emoção era morna, moço.

Por isso eu peço aos moços de plantão que não se apaixonem por mim. Não tentem mais nada por mim. Eu sou a decepção em pessoa. Por mim e por vocês. Por não poder dar o que vocês merecem e por sempre ser uma metade que não se soma, nem se altera perto do inteiro que vocês depositam. Porque eu não afundo no mar, moços. Eu não mergulho se eu não for puxada por um instinto que é mais forte que eu. E vocês me deixavam sempre na superfície. Mas a culpa não é sua. Nem minha. E talvez isso seja a parte que mais me incomoda. Vocês vão embora e me culpam. Eu me culpo. Mas a danada da culpa sabe que não pertence a ninguém. E eu sofro porque vocês sofrem junto comigo. Porque foram bons comigo – e eu não consegui devolver a recíproca verdadeira.

Mas não é como se eu não quisesse que um de vocês me descobrisse. Eu até quero. Só tenho medo de que o tal moço desista de vez quando perceber que eu vivo numa armadura invisível. Que não faço por mal. Que eu abraço o meu travesseiro de noite pra inventar companhia. E também sofro dos clichês de chocolate. Que a minha janela vive empoeirada porque eu não abro as cortinas em dias de chuva. Que o meu DVD adora os romances de final feliz como qualquer outra garota da minha idade. Mas eu me importo, moço. E peço desculpas aos outros moços de plantão que foram embora com olhos inchados e peito vazio. Se quiserem evitar a decepção e a dor de sofrer por um amor que não vale a pena, me evitem. E não se apaixonem por mim.

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