Não dá mais


[Você pode ler este texto ao som de “I Know I’m Not The Only One“]

“Não dá mais. O ciúme, a ansiedade, as cobranças. Não sei lidar com tudo isso, é muita pressão. Acho que preciso de um tempo”.

Foi assim que ele começou o último e-mail. Sim, ele terminou por e-mail e agora faz parte do percentual de pessoas inescrupulosas que usam a internet para resolver aquilo que não conseguiriam cara a cara.

Mudaremos o status do Facebook e acontecerá o que já é padrão: a fulana que sempre odiei puxará conversa com ele 5 segundos depois de curtir a atualização para “solteiro”. Os amigos mal informados – e sem noção – deixarão pontos de interrogação nos comentários. Minha mãe vai postar a foto de um filhote de foca tomando mamadeira e uma legenda mais ou menos assim: “Forca filhota mamãe te ama!!!!!!!!11”.

E enquanto tudo isso rolar no universo paralelo da rede mundial de computadores, eu estarei revivendo mentalmente cada cena do nosso filme B, tentando captar o momento exato em que trocaram o ator.

Por que as coisas são inevitavelmente mais gostosas no início? Por que as pessoas mudam até chegar naquele ponto em que desistimos, entregando os pontos e estragando tudo? Como meus avós se aguentaram por mais de 50 anos?

Às vezes acho que as coisas seriam mais simples se bastassem beijos e corpos. Não me abrace! – Eu diria em tom grave. É melhor você ir embora antes que a gente comece a falar dos amigos em comum. Seria terrível se nos conhecêssemos melhor.

Aliás, o grande problema em conhecer alguém melhor é que no fundo a gente não conhece nada.

Desculpem o pessimismo. Ainda me surpreende que pé na bunda renda dor de cotovelo.

E o que fazem 90% das pessoas com dor de cotovelo? Fingem estar bem.

Preste atenção na sua timeline. Se aquela colega de faculdade que terminou recentemente não para de postar frases do tipo “se quer alguém para amar, ame a si mesmo”, pode crer que ela passa as noites vendo séries, comendo porcaria e pensando no ex.

Esbocei uma resposta ao e-mail dele. Uma resposta madura, de acordo, com mais 50 linhas e que terminava com “espero que possamos ser amigos”. Ao ler, percebi que seria melhor fazer uma pequena edição e ser sincera. O resultado? Mandei uma única linha: “FODA-SE!”. Maturidade!

Sei lá se quero que ele se foda de verdade, para sempre, mas por enquanto é tudo que eu mais quero. Que ele se foda enquanto eu conheço um cara alto, forte, lindo e rico. Que ele se foda e se arrependa enquanto eu vivo. Que ele se foda e corra atrás de mim, arrependido. Que ele se foda e eu o foda com minha resposta: agora não quero mais.

Por enquanto, dor de cotovelo. Desabafos pra ninguém. Séries e comida gordurosa. Frases forçadas no Facebook. Torcida para que ele se foda e não foda ninguém.

Por que as coisas são inevitavelmente mais gostosas no início? Por que em tempos de internet, onde é tão fácil conhecer pessoas de qualquer lugar do mundo, a gente não conhece ninguém?

Flávia

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