Eu não sou pra casar


Quer saber? Nunca me senti tão vivo. Com problemas de gente grande, um emprego estável, em teoria, e muita vontade de parafrasear a minha sorte em qualquer boteco de esquina. Não costumo desdenhar daquilo que faz meu coração pulsar, mas é exatamente por manter meus pés no chão que não tenho medo de abrir minhas asas quando preciso.

Sempre quis ser mãe e pai. Cuidar de uma vida que não a minha. Ensinar a montar a cavalo, colher bergamota e declamar poesia, igualzinho aprendi com os meus, sem que isso seja imposto por qualquer deslize que eu venha a cometer no meu destino. O copo cheio e a cabeça vazia, ainda consigo me perder no suor de alguns corpos sedentos por prazer descartável. Já arranquei suspiros e lágrimas de muita gente e confesso que não me orgulho de ser um autodidata dos relacionamentos fracassados. Sim, minhas feridas e minha paciência também foram cutucadas com vara curta, vez ou outra.

Mesmo que eu esteja errado, nunca tive a intenção de estar certo, apenas quero ser o melhor que puder, primeiro pra mim, depois para os outros. Não cativo o descaso, porque sempre fui sincero demais para aceitar o silêncio como um amigo, quando não me convém. Aprendi a me preocupar mais com as minhas contas do que com a opinião alheia, portanto, não me interessa o interesse de alguém com possíveis intenções de me prender a uma aliança dourada.

Há tempos que não tenho mais tempo para ensaiar encontros e repetir gentilezas. Óbvio que não seria leviano à ponto de negligenciar minhas intenções de bom partido, mas no momento me encontro inteiramente ocupado com meus planos individuais e, mesmo que a minha cama seja de casal, sempre falta espaço para as minhas vontades, pois preciso seguir os protocolos da rotina que escolhi pra mim.

Compartilho a alegria dos amores verdadeiros que sempre me pertenceram, fossem eles de amigos, da minha família ou da minha cadela. Talvez esteja cedo demais para decidir quem colocará o lixo pra fora nas manhãs de quarta-feira e quem buscará as crianças no inglês na quinta-feira à tarde. Por enquanto, prefiro enaltercer a liberdade de uma boa sexta-feira, sem remorsos por ter infundado minhas expectativas no que eu poderia ter sido, além de satisfeito com aquilo que tenho.

Quero conhecer mais sobre mim e ter certeza de que serei capaz de mudar de ideia quando enjoar de seguir trilhando sozinho, pelas noites em que passo acordado. Perder a hora e a vergonha de dizer o que me der na telha. Aprendi que não se pode tentar programar o futuro através de anseios que não nos pertencem. Só então, acho que estarei apto a morar no querer de alguém, sem precisar querer sair de casa.

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