De uma garota com o coração na mala


[Você pode ler este texto ao som de Dancing On My Own na versão do Kings of Leon]

Ele tá indo embora e eu cortei o cabelo. Sempre corto o cabelo quando tô com a cabeça cheia e quero me livrar do passado, numa tentativa de dizer pro futuro que não me importo, que não tem apego, que nada vai me doer tanto assim quando me olhar no espelho e vir que sou outra eu, outra mulher preparada pra tudo. Menos pra perder você.

Tu não sabe, mas sempre que eu bato o coturno no tapete da porta e vejo que ainda é o que eu te dei, aquele que anunciava a minha entrada no nosso paraíso, eu morro um pouco por dentro. E você nem imagina quantas vezes eu fui capaz de morrer da última vez, na tal despedida, na coisa formal que a gente estipulou de se ver pra dizer adeus ou alguma coisa embaraçosa enquanto eu borrava o lápis todo no olho.

O teto do teu quarto nem era estrelado, mas parecia que ali, deitada do teu lado, com a mão esbarrando e o nervosismo formigando no estômago, eu tava num primeiro encontro com um garoto de 14 anos. Eu nunca tinha parado pra pensar em como as despedidas levam da gente a maturidade e só resta o nosso lado cru, o lado que vai chorar, que vai ficar sem voz, que vai se esgoelar por dentro por questões adultas que fogem ao nosso controle. E se passasse uma estrela cadente no teu teto, enquanto a gente olhava pro alto sem se encarar, eu teria pedido, teria deixado de lado a vontade de virar rockstar ou de morar bem longe daqui, teria feito com todas as forças um pedido pra você não ir embora de vez.

couple

São 2 anos, você me diz. Mas d-o-i-s anos é uma eternidade, olha como demora quando eu soletro, como faz parecer que eu nunca mais vou te ver. Vai que você se encontra por lá e me diz que esse amor todo que sentiu e que continua sendo meu, apesar da outra, esse amor todo não passou de uma fase de video game, que você cansou de jogar Mário Kart e foi se aventurar em algum daqueles jogos esquisitos de RPG pela Europa. E, poxa, quem é que vai me deixar enfeitar a geladeira com pinguins e me dizer que eu fico linda – e estranha – com um píjama do Batman? Só existe um de você no mundo, meu bem. E não vai ser fácil te deixar se perder nele.

A gente já tá longe e você já está com ela. Apesar disso, eu sei que vai doer mais em mim. Vai doer porque ela passou os últimos minutos do seu lado, mesmo que eu tenha enfrentado o frio de Curitiba – numa tentativa vã e desesperada – pra te ver. Vai doer mais porque não foi ela quem teve que buscar as coisas na sua casa e devolver as chaves, enquanto o carpete que eu te dei me encarava com um adeus. Vai doer porque estrelas cadentes não realizam pedidos e porque pinguins só se apaixonam uma vez na vida, e foi pra te lembrar disso que eu enfeitei a tua geladeira. Vai doer porque você me fez sentir como se a gente pudesse contar essa história de outro jeito, e agora eu tô aqui, uma garota com o coração na (sua) mala prometendo pra você que vou sempre pensar em ti enquanto você estiver olhando a lua.

Tá doendo mais porque eu sei como você é incrível, como odeia aquela música dos Pullovers que eu cantarolo sempre que chego em casa e porque eu acho que o vizinho de cima, aquele novo que foi morar justamente no seu andar, no quinto, ele usa o mesmo perfume que você – o que faz com que o cheiro entre pela janela e me pegue de surpresa sempre que volto do trabalho. Mas não é você, não poderia ser, porque igual a você só existe um no mundo.

bovonew

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