De quem vende amores de emergência


[Você pode ler este texto ao som de The A Team – Ed Sheeran]

Olha, hoje é mais um dia como outro qualquer. Se eu passar a maquiagem um pouco mais reforçada, quem vai perceber que por baixo tem uma barba? Eu sei bem o que muitos pensam, mas eu não escolhi que fosse assim. E quem escolheria essa vida? Vou atrás dos meus trocados porque eu também tenho que comer. Se não for eu, quem vai me sustentar? Mais uma vez vou esperar alguém, que mesmo com desdém, me dê alguns trocados. Essa roupa não me cai bem, mas tem que ser assim pra que eu consiga provocar desejos, incitar sensações, vontades que nem eles mesmos antes chegaram a imaginar. Tem que ser assim… Vou precisar comer amanhã… Sem falar que a minha conta de luz tá atrasada.

Eu sei que você tá pensando: ‘Ah! Ele só tá aqui porque escolheu isso!’. Mas olha, você nunca esteve na minha pele pra saber de verdade como é. Sempre tive isso dentro mim, mas nunca soube lidar e muito menos entender ao certo por onde caminhar. Achei que se tentasse me fazer entender por alguém, esse alguém pudesse me direcionar, sei lá! Agora vejo mesmo é que não pensei. A verdade é que ninguém conseguiu entender. Foi aí que tive que sair e me virar. Me virar com o que eu tinha, com o eu já sabia e aprender o que o mundo tinha pra me ensinar.

Foi assim que parei aqui. Acabei ‘descobrindo’ que tinha um corpo e que de alguma forma isso me serviria. E eu tava certo. Tem dado certo. Mas isso faz minha alma sangrar e você nem pode imaginar o quanto. Na verdade não sei por que tô te contando isso. Cê não vai entender nada. Eu te vendo amor. Daqueles fugazes com hora marcada a telefonemas secretos. Meus amores de emergência, empacotados, fabricados aos montes numa esperança (sincera) de que algum lhe sirva e me vista também, ao invés de me despir. Te dou meu preço, te entrego a mercadoria, você me paga e cada um segue com a sua vida. Mesmo que eu quisesse te conhecer melhor.

Olha, isso não vai se tornar um estado permanente. Eu tô tentando melhorar. Juro. Tô pagando um cursinho e vou tentar entrar numa faculdade. Melhorar de vida, sabe? Não vou me conformar com isso… Não nasci pra ser só isso. Pensar que vendo amores de emergência me faz pensar que tô fazendo um bem a alguém. Faz não parecer tão ruim.

Faz com que não doa tanto.

A sua cara não tá muito boa. Acho melhor parar por aqui. Afinal, o que eu queria te contando tudo isso, né?, falo rindo. A verdade é que eu queria um abraço e que você dissesse que vai ficar tudo bem. Que isso tudo vai passar rapidinho. Que eu não vou ter que voltar pra casa, a cada manhã, um pouco mais vazio. Eu queria que você dissesse que eu não tô sozinho no mundo, mas aproveita o tempo que sobre e me olha, e finge que me vê por dentro. Que vê as minhas qualidades acima de qualquer coisa.

(Silêncio)

Olha… Não precisa falar nada. Me arranja teu relógio pra que eu possa ver quanto tempo ainda tenho pra amar você. Sai sem dizer nada (como os outros) e deixa o dinheiro ai, nessa mesinha do lado da cama. É que eu vou ficar um pouco mais. Quero ver a Lua daquela janela.

É que eu tenho que aproveitar um pouco do inteiro que ainda sou hoje.

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