Você é melhor que isso


Eu sou uma pessoa ocupada. Além de lidar com as coisas que faço na internet – blog, canal no YouTube, postagens nas redes sociais -, eu também tenho um emprego de oito horas por dia, tenho que cuidar de frilas e de um livro que está pra sair, manter meu apartamento limpo, fazer comida, tirar o lixo, tentar não ser sedentário e tudo aquilo que envolve cuidar de uma vida. De vez em quando, me pergunto se as minhas reclamações não são fruto de uma percepção meio “classe-média sofre”, já que conheço muita gente que passa por apertos maiores que os meus. Mas não é nesse recorte que eu quero entrar hoje. É em outro aspecto da vida de pessoas que, assim como eu, se sentem responsáveis por tudo o que acontece no nosso dia a dia.

Talvez você também tenha a sensação de que precisa dar conta de mais coisa do que deveria. Não entende por que o seu corpo está pedindo arrego às dezenove horas da noite se você só acordou às sete, fez café da manhã, botou roupa pra lavar, limpou a casa, levou o cachorro pra passear, saiu correndo pra uma consulta médica, trabalhou o dia inteiro, pagou contas, pegou duas viagens de ônibus de uma hora e ainda tem um monte de coisas que você gostaria de fazer em casa – mas seu corpo não deixa.

Esse conflito me persegue diariamente. Não só nas atividades rotineiras, mas nas decisões importantes que tomo. Quando uma entrevista de emprego não dava certo, eu me perguntava o que tava fazendo de errado. O que eu tinha de errado? O que eu poderia mudar? O que será que não gostaram em mim? Quando um relacionamento não engatava, eu corrida para uma academia. Achava que era culpa do meu corpo, da minha dieta. Tentava ver mais filmes e ler mais. Achava que precisava de mais cultura pra ser mais interessante. Eu tentava me culpar por tudo o que fugia do meu controle sempre que possível.

Cá entre nós: essa foi a maior besteira que eu já fiz na vida. Esse complexo de divindade que acha que tem controle sobre o tempo, o clima, o destino, os resultados de tudo e, mais ainda, sobre a vontade do outro. O que o outro escolheu da vida dele, mesmo que nos envolva, não é decisão nossa. Nós até podemos influenciar a tomada de decisão, mas ela é de responsabilidade do outro.

Nem todos os seus relacionamentos fracassados dependiam de você. Nem todas as vagas de emprego eram para ser suas se você tivesse mudado seu comportamento. A chuva vai continuar caindo, você não muda isso. De qualquer forma, é costume nosso não pensar dessa maneira. O mais comum é levar pro pessoal. É levar nosso corpo para o purgatório e começar a pedir penitências pelo “fracasso” dele.

Você já parou pra pensar em tudo o que você faz? Porque eu nunca tinha parado pra pensar. Eu me esforço pra caramba em muitas áreas. E, mesmo assim, tem coisa que não dá certo. Eu me sinto mal quando não consigo completar uma leitura porque dormi de óculos com o livro aberto devido ao cansaço. Mas não deveria. Não deveria me sentir mal por não conseguir abraçar o mundo e, mais ainda, não deveria me sentir mal pelas coisas que não dependem de mim.

De um tempo pra cá, tenho aprendido a coisa mais importante que poderia: o perdão que nós precisamos nos dar. Durante esse tempo, eu pensava: “eu não sou assim, eu sou de outro jeito, eu sei que posso fazer melhor, eu faria de outra maneira, por que eu não consigo?”. Me batia o tempo todo com cobranças. Até que, de repente, comecei a me perdoar. Entendi que aquilo era o máximo que eu conseguiria fazer com o que tinha. E era muito bom. Comecei a entender que, no fundo, eu não deveria me cobrar pra ser melhor que “aquilo”, porque “aquilo” era o melhor que eu podia ser naquele momento, nas coisas que só dependiam de mim.

Por isso, tenho trabalhado a ideia de ser melhor de outra maneira. Não foco mais em me cobrar, mas em me perdoar de vez em quando. Eu preciso mais da minha própria amizade e compreensão em vez da inimizade que eu travava por não saber me perdoar.

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