Seu celular vai tocar esta madrugada. Vão ser dois toques – o tempo em que eu levo pra tomar vergonha na cara e desligar, torcendo pra você não notar que eu fui a primeira a correr atrás. Pro meu azar, você vai estar voltando da balada e vai estar justamente com o celular na mão nos poucos segundos em que meu nome aparecer na sua tela. Querido ex, eu sei o que você vai pensar. Que eu não esqueci você.
Pra minha defesa, já digo que acho que é isto o que sempre acontece quando o amor acaba pra um e não pro outro. A gente precisa entender, sabe? Então não me julgue pelos primeiros dias – não me tome por alguém fraca, ou chata, ou sem amor-próprio enquanto eu estiver com as feridas abertas. Sofrer pelo nosso fim vai ser a minha maneira de voltar a fita e tentar perceber aonde foi que eu errei – ainda que, muito depois, eu perceba que amores acabam mesmo sem ninguém ter errado.
Dias depois, quando cê mandar aquela mensagem querendo saber como eu tô e eu não responder, não pense que foi por maldade. Meus amigos vão ter tirado o celular da minha mão no meio do bar e eu não vou ter outra alternativa a não ser beber e rir de histórias alheias. Tem horas em que a gente precisa guardar a dor no bolso e continuar vivendo – é assim que a roda gira, não te contaram? Mas saiba por mim que eu vou estar bem. Não 100%, é claro que não (quando eu pensar em você, ainda vai doer), mas entre uma risada e outra, entre um gole de cerveja e outro, eu vou perceber que há vida além de nós dois. E ela também pode ser bonita.
No aniversário do Edu, quando a gente se cruzar no meio do salão, não precisa me tratar como uma estranha. Tá liberado abrir um pequeno sorriso – eu não vou te agarrar como se minha vida dependesse disso, nem vou xingar você para quem quiser ouvir. E fique tranquilo: eu não vou desmoronar. Você ainda não vai saber, mas eu vou ter acabado de ter conseguido um emprego novo. Ou seja: longe de mim perder tempo no meio da festa pensando no que a gente era. O que a gente era acabou.
Eu não vou gostar da sua nova namorada. Vou achar horrível esbarrar com vocês nos eventos dos nossos amigos em comum. Vou me afastar. Vou deletar seu número do meu celular só-pra-não-correr-o-risco. Talvez eu fale um pouco mal de você (desculpa, faz parte). E com certeza eu vou falar mal da sua atual (desculpa de novo, depois vou perceber que ela é ótima) – é só o tempo em que eu levo pra perceber que ela não tá roubando o meu lugar. O meu lugar na sua vida já não existia. E uma hora o seu na minha também vai deixar de existir.
Um dia, eu vou me ver torcendo pra você ser muito feliz. De coração, sério mesmo. Por isto, esta noite, quando seu celular tocar, não precisa ter tanta pena de mim. Aqui do futuro, te falo com conhecimento de causa.
Querido ex, ainda não é hoje, mas vai acontecer.
Eu vou esquecer você.
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