Eu sou uma fraude


 
A primeira vez em que eu li sobre a Síndrome do Impostor foi em um texto da Nessa Guedes no site Lugar de Mulher. Enquanto eu lia, eu percebi que eu entendia bem sobre tudo o que ela estava falando – sobre se sentir uma fraude, dar mil explicações diminuindo a própria conquista quando alguém nos elogia, ou sobre a solidão de se sentir um fracasso. E foi depois de ler aquele texto e pensar “Meu Deus, é isto, eu não estou sozinha!” que eu comecei a ler e pesquisar mais sobre o assunto.

Há anos eu venho lutando contra problemas de autoestima. E sim, tudo começou com problemas de aparência, provavelmente no auge da adolescência quando a gente está tentando se aceitar e tudo ao redor grita como devemos ser e como devemos parecer. Mas engana-se quem pensa que autoestima baixa é só não conseguir se achar bonita, ou se sentir feia um dia, não gostar do próprio corpo ou algo assim. Esta é só uma parte do problema.

De vez em quando, por exemplo, algum conhecido que não sabia que eu escrevo acaba lendo algum texto meu e me manda mensagem. E em 95% das vezes eu me sinto tão constrangida e tão desmerecedora do elogio que a minha vontade é responder: “o texto parecia bom, mas na verdade estava uma merda, você que não leu direito”. Não é charme. Não é mania, não é querer forçar uma falsa humildade. É não saber aceitar elogio mesmo. É não sentir que merece o elogio, na verdade.

Sobre o trabalho, sobre os textos que eu escrevo, sobre a minha aparência: sempre tem uma explicação. “É tão fácil fazer, não foi nada demais”. “Ah, é só um texto bobo”. “É que eu me maquiei bem hoje. A roupa é nova”. Mesmo quando eu não falo estas coisas, é provavelmente o que eu estou pensando. O que estou sentindo.

Uma vez, uma amiga me enviou uma vaga de emprego em que eu preenchia todos os requisitos. Todas as funções que a vaga pedia eu já havia feito em algum trabalho e tinha me saído razoavelmente bem nelas. Claro que só isto não quer dizer que eu conseguiria o emprego, mas valia a tentativa. O problema é que era para uma empresa importante e um cargo que eu ainda não me sentia merecedora. Então simplesmente resolvi não enviar meu currículo. Sem perceber, eu estava me auto-sabotando e simplesmente abrindo mão de tentar.

Eu resolvi escrever este texto porque, depois de ler muito sobre o assunto, eu percebi que não estou sozinha mesmo. Muita gente (principalmente mulheres!) enfrenta as mesmas sensações e luta contra a auto-sabotagem por se sentir uma fraude todos os dias. E, apesar de não acreditar que este texto vá mudar alguma coisa – nem para mim, nem para quem lê – eu acho que é importante falar no assunto. É importante tentar entender nosso papel enquanto sociedade: o que a gente anda fazendo de errado para que as pessoas se sintam assim?

E, pra você que se identificou com qualquer uma dessas coisas, eu queria deixar um recado. Lembre-se: você merece o seu próprio amor. Vou tentar acabar o dia me lembrando disto também.

-

Você também pode gostar desse assunto. Assista ao vídeo abaixo:

Comentários