Porra, por que você não ficou?


Porra, ainda tem tanta coisa especial aqui…

Ainda tem tanta coisa.

Outro dia eu tomei coragem de abrir a gaveta que eu fechei com força quando resolvi aceitar que você tinha ido embora e que ela deveria permanecer trancada, escondendo todas as lembranças que eu jurava esquecer. Se você não voltaria, eu não queria mais as lembranças e eu não queria mais nada a menos que desse nada surgisse você.

Não surgiu.

Mas na gaveta tinha muita coisa. Achei lá dentro o disco que você me deu pra comemorar o nosso primeiro mês do lado um do outro. Você escreveu: “porra, você me faz bem demais”. Isso me fez lembrar 1. como eu sempre soltava um “porra” na defensiva quando você apertava minha barriga com o ombro desajeitado sempre que tentava deitar no meu colo, antes de eu relaxar de novo e pontuar sua testa com um beijo e 2. o tanto que eu te fazia bem demais, e o quanto você me fazia bem também.

Talvez até sobre espaço para um 3., que era como eu me sentia bem girando ao seu redor ao ritmo daquelas músicas e daquelas letras loucas que chamávamos de nossas. Será que mais pessoas gostavam das mesmas músicas e as davam para outras pessoas que, porra, as faziam bem demais? Será que deixaram de fazer? Pararam de se alegrar?

Porque não pararam por aqui.

Eu achei uma lista de filmes que eu ia ver com você e uma lista de comidas que eu ia preparar pra gente. Eu achei uma série de frases que você me dizia e que eu prometia pra mim não esquecer. Você sempre foi de uma preciosidade de frases memoráveis e simples que me acertavam o coração a ponto de deixar à mostra um sorriso. “Porra, eu não acredito que você acabou de dizer que me ama”.

Porra, você xingava demais e amava demais e era intenso demais em tudo que era meu redor.

Porra, você me dava a mão enquanto caminhávamos naquela rua meio perigosa enquanto dizia que não tinha medo. Eu quase não sentia medo também. Eu não sabia o que seria pior, soltar você ou ser olhado feio.

Sabia sim, soltar você doeria bem mais.

É por isso que eu nunca soltei e, porra. Eu ainda não sei como você não pôde ficar.

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