Eu vou errar tudo de novo


Me olho no espelho de manhã e repito:
– Você não vai errar tudo de novo.
Eu vou.
Desde o dia em que nos conhecemos eu não consigo sair do lado do telefone. Espero sua mensagem de bom dia. Tento me controlar, respondo um sereno “pra você também”. Os corações e sorrisos eu guardo pra mim. Me pego rindo sem motivo, sonho acordada e esqueço de tudo. Principalmente que os anos e as cicatrizes já deveriam ter me ensinado a manter os pés mais firmes no chão.

– Você não vai se dar inteira de novo.
Eu vou.
Sempre que deixo sua cama, eu sinto que deixei mais um pedaço de mim em você. Saio andando firme, fingindo que continuo inteira, que não tem nuvens sob os meus pés.

– Você não vai se apaixonar!
Eu vou.
Na verdade talvez seja tarde demais.

– Não se entregue.
– Não se exponha.
– Não sonhe demais.
– Não crie expectativas demais.

Eu vou. Eu vou. Vou errar todos os erros e quebrar todas as regras que eu mesma criei pra me proteger. Mas agora, inebriada e embriagada de paixão me pergunto: me proteger do quê?

Quando caímos e temos o nosso coração pisoteado por alguém, achamos que pra levantar precisamos nos prometer nunca mais arriscar.

Nunca mais amor. Nunca mais amar.

Nunca mais saltitar pela rua como se pisássemos em nuvens.
Nunca mais cantar o dia todo, solfejando toda e qualquer música doce, e levemente brega.

Nunca mais sonhar acordada, nunca mais planos de futuro, nunca mais horóscopo, sinastria e numerologia para o nome de filhos que nem sonham existir.

Nunca mais…
Por quê? Por que abrir mão de ser feliz?

Agora penso que me privar de todas essas adoráveis loucuras adolescentes, seria loucura ainda maior.

Eu vou errar com um sorriso no rosto. Daqueles que teimam em não sair. Vou errar me deixando em partes em cada cantinho da sua cama. E da sua vida.

E se acabar, e se doer, eu vou chorar como me prometi que nunca mais choraria por ninguém. Vou sofrer e vou prometer outros “nunca mais”. Por enquanto tenho apenas uma promessa a cumprir: serei feliz.

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