Não se apaixone por um cara de gêmeos


[Você pode ler este texto ao som de El Dorado]

Ei, não se apaixone por mim, não vale a pena. E eu sei que você vai se perguntar porquê, mas eu te garanto: não é uma boa ideia. Você sabe que eu não acredito nessas coisas de signo, mas até que esse argumento me ajuda bastante agora. Sabe o que é, eu sou de Gêmeos. E parece que todos nós, caras de Gêmeos, somos assim: um pouco excêntricos, desinibidos, despreocupados, desérticos e solitários. E é verdade, embora eu não acredite, eu sou um típico cara de Gêmeos – nem se dê ao trabalho de procurar minha lua ou meu ascendente.

Eu sou esquisito, não me apego. Tenho dificuldade com conversas longas, com olhares demorados. Até gosto. Gosto hoje, amanhã, por mais dois dias. Mas de repente quero olhos rápidos, metrôs e Nova Iorque. Você sabe, afinal é você que gosta de signos. Você sabe que num dia eu quero ser médico e no outro maratonista. Gosto de verde, lilás, amarelo, cor de abóbora. Gosto de palmito, detesto palmito, gosto de paz, quero confusão. Não sou bom de parar num lugar, me incomoda a rotina, não sei o que é abdicar por amor e o pior: pode ser que amanhã eu já tenha ido embora. Talvez não de corpo, mas de alma.

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É que eu carrego essa alma livre, esse coração que não sabe parar quieto e essa propensão a ter infinitas casas no mundo. Você sabe que a inquietude é meu estado civil e, de repente, eu estou derramando tinta e café preto sobre as minhas rotas e meus mapas-mundi. Você até tenta não acreditar que tudo isso é verdade, se recusando a aceitar que eu não consigo acordar mais de quatro dias com as mesmas ambições. Eu sei que você pensou que poderia me mudar, mas ao que tudo consta eu sou incorrigível. Não é por causa da posição das estrelas no céu, mas é que eu só não consigo acreditar que desse mundo inteiro eu tenha que aproveitar somente um pôr-do-sol por vez em somente uma pedra na beira da praia. Eu preciso de mais e de muito.

Preciso de incertezas e ciclos fechados, afinal você sabe que até o “pra sempre” me desespera. Eu sou o cara dos novos capítulos, dos muitos últimos parágrafos, de uma biblioteca e não de ler o mesmo livro todas as férias. Eu gosto do novo, do desconhecido, do “quer batata frita com cheddar por apenas um real, senhor”? Eu gosto do exagero, do superlativo, da gargalhada alta e do grito. Eu não sou da casa no campo, eu prefiro a cidade grande cheia de rostos novos todos os dias.

No fundo, você sabe que eu vim, ficaria pouco e que, possivelmente, deixaria uma saudade numa história que não fomos. Então, agora que você tem tempo de evitar me olhar assim tão profundamente, por favor, não se apaixone por mim, não vale a pena. Não vale a pena.

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