Quando você foi embora, eu não quis levantar da cama para não ver a casa vazia. Para não ver como os cômodos dobraram de tamanho sem você aqui. Não quis fazer o café porque eu ainda não posso errar a medida de dois para um.
Não quis sair da cama para pentear o cabelo porque não veria seu reflexo me observando do quarto com aquele olhar pidonho e admirado. Não quis tomar banho quente porque não teria nenhum recado no espalho embaçado.
Hoje, eu não quis sair da cama porque a sala estaria sem graça e sem vida. Não teria você ali para disputar os canais – só para provocar (risadas). Não teria você explicando a cena do filme, que fez alguma referência aos quadrinhos.
Claro que eu também sinto sua falta ao meu lado, mas a cama é um dos poucos lugares onde eu e você ficávamos desgrudados, já que eu nunca consegui dormir de conchinha. Continuo encolhida no meu lugar, virada pra janela, sem ousar tatear e procurar você a poucos palmos de distância.
Não quero tirar o pijama porque eu teria que pegar roupa no armário e não quero achar uma camisa sua perdida sem querer. E se ela tiver o seu perfume? Não faz sentido o seu cheiro sem você aqui.
Não quero sair da cama para não enfrentar o chão frio e o choque de realidade que isso vai significar. Uma hora eu saio. Uma hora atendo ao telefone. Mas hoje, eu só consigo sentir sua falta.
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