[Você pode ler este texto ao som de Smoother]
Queria que você tivesse me abraçado e visto, sentido, tirado a tensão das minhas costas, apertado as minhas mãos e respirado na minha nuca.
Queria que você não tivesse reparado na minha calça manchada, nos meus quilos a mais e na minha mania de não comer nada de manhã – é que eu prefiro deixar o estômago vazio pras borboletas sentirem fome e começarem uma revolução dentro de mim.
Queria que não tivesse sido assim, num pedido de socorro, mas fiquei feliz de ter esquecido as chaves de casa só pelo prazer de bater na tua porta. Queria que você tivesse se visto de pijama e esfregando os olhos de sono, só pra entender por que eu queria tanto que você tivesse gostado de mim.
Queria que você tivesse me dito algo sobre os seus discos, Caetano, Elis ou Gil, alguma canção de MPB que fosse difícil de acreditar que era sua música preferida porque você é jovem demais. E eu te diria que a gente tem todo o tempo do mundo.
Queria que você me visse tirando o casaco no meio da rua e corresse pra me abraçar. Que lá fora tá frio, uns 15 graus, papo de sentir calor só se a gente tomar um café junto e você me cobrir de afeto.
Queria que você tivesse visto como eu olhava quando você chamou o táxi pra mim e entrou no seu carro. Como eu queria ter prolongado a cama, o edredom, o banho e tudo aquilo que não passou de gentileza sua.
E por tudo isso que eu queria que você tivesse gostado de mim na manhã seguinte. Que tivesse acordado do avesso como eu acordei. Que me desculpasse pelo ronco, pela cara inchada, pelo jeito como eu falo alto e acordo a casa toda e por eu ter escrito esse texto.
Queria tanto que você tivesse gostado de mim que me esqueci de dizer antes, aquela hora em que você me acordou cedo, que você nem tinha ideia do quanto eu tinha gostado de ti.
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