Meus amores inacabados


Sonhei com você a noite passada, daí a necessidade de dizer que me perdoei pela série de erros cometidos. Acho que perdoei seus erros também. E espero que você me perdoe.

No sonho, várias cenas, cenários e situações se embolaram e embaralharam completamente minha cabeça. Primeiro nos víamos de longe e a cada sonho (foram vários na mesma noite) você chegava mais perto. No último nos tocávamos, e foi tão real quanto dois anos atrás.

Eu não lembrava do seu rosto, acredita? Ok, talvez evitasse lembrar. Ele apareceu sem convite e inesperadamente abriu meia dúzia de feridas.

Acordei cansada, exaurida pela tentativa de te fazer ficar. Doem tantas dores quando penso em você. Talvez porque não nos despedimos. Talvez porque eu não saiba mais quem você é. (Eu soube algum dia?)

Estou bem melhor agora. Sou mais feliz. Não tão magra, mas com certeza mais completa. As coisas saíram mais ou menos como eu queria: faculdade, projetos, trabalho. E você, como o tempo tratou suas expectativas?

Se a gente se encontrasse hoje acho que eu seria mais séria e menos corajosa. Chamo de maturidade.

A nossa história é tão feia e ao mesmo tempo tão importante pra mim. Pensar em você fecha minha garganta, arranha minha paz, me dá vontade de chorar. Sofro porque sei que nunca haverá um final feliz. E olha, não falo de um enredo romântico. Falo de nós, do que éramos e de como nos transformamos em nada um pro outro. Você era meu melhor amigo e só havia descanso na sua voz, no seu abraço, no seu sorriso. Eu lia Drummond e tinha certeza de que ele havia escrito aqueles poemas pra você.

Fico me perguntando se destruí tudo sozinha e a resposta é sempre a mesma: não. Acho que estragamos juntos. Estragamos quem éramos. Estragamos a história. Graças a deus Drummond está morto e não pode testemunhar nossos vacilos.

Cavei um buraco tão fundo que só recentemente consegui sair dele. Acho que cheguei a sentir raiva por isso: enquanto eu cavava, você vivia. Foi difícil entender que a única opção válida é viver.

Não te espero, nunca esperei. Não penso em voltar. Não tenho ilusões. Não amo mais. E mesmo assim dói. E mesmo assim… Nem sei.

Por que não agimos como adultos? Por que não culpamos um ao outro, cuspindo os erros e apontando os defeitos, dizendo que estaríamos melhores sozinhos?

Eu falaria alto, você diria que faço escândalo e que cansou. Fingiríamos que foi consensual e ambos chorariam abraçados ao travesseiro por alguns dias, até restar só birra e saudade.

Mas nós simplesmente sumimos, como aqueles rostos estampados em caixas de leite nos filmes americanos.

Você sumiu da minha vida e passou a existir apenas aqui dentro. Em certo ponto eu nem sabia discernir o que era lembrança e o que era invenção.

Odeio você. Amo você. Sinto raiva. Sinto sua falta. Não tenho a menor ideia do que sinto.

Se Drummond estivesse vivo eu pediria ajuda para um poema com ponto final.

Flávia

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