O que eu nunca falei pra ninguém


[Você pode ler o texto ao som de Pelo Interfone]

Aquele último olhar que você dá antes de virar e ir. É ali que eu percebo – e acho que você percebe também – que não tem mais volta. Alguma coisa quebra dentro de mim ao descobrir que, meu Deus, depois de tanto tempo e depois de tantos outros, cê finalmente apareceu. E dá um medo que eu nunca senti antes; um medo desses que a gente tem de viver e descobrir que o sonho era bem mais bonito que o mundo real. Enquanto você caminha pela rua torta da minha casa, antes de virar a esquina, e eu ainda olho seus passos pela janela, alguma coisa no meu coração decide: eu quero você pra vida inteira.

O riso agudo que eu dou num misto de alegria e desespero porque, pela primeira vez, perdi o controle e tô vendo os dias me levarem direto a você, ecoa pela sala. O que acontece depois que a gente repara que se perdeu por alguém? Cuida, eu peço. Tem feridas e lembranças e buracos que deixaram enquanto eu esperava por você. E um coração cheio de remendo de tantas vezes que se quebrou porque é ingênuo de acreditar demais. Mas tudo bem. Cê cuida e eu te cuido e a gente tenta. Que a vida, na real, acontece nesses instantes em que a gente pensa “eu podia morrer agora e morria feliz”. Eu podia morrer olhando pra você.

É um pouco uma promessa e um pedido. Acho que amor é isso. Se entregar e esperar que, por favor, por favor, por favor, o outro se entregue de volta. Cê pula e eu pulo, não é? Cê segura minha mão e a gente vai torcendo pra vida não ser muito cruel com a nossa história. Que uma vez, uma vez, o amor tem que dar certo por aqui.

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O amor tem que dar certo.

Eu não entendo o arrepio que me dá quando cê me abraça e sussurra um “dorme aqui” que eu escuto como a maior declaração da minha vida inteira. É que depois de tantas vezes catando as roupas no chão e saindo no meio de madrugadas vazias de quartos tão diferentes do seu, eu não sei direito como isso funciona. Ficar, eu digo. Escutar sua respiração enquanto a cidade dorme e eu tento não pensar que a vida não pode ser nada muito além disso. Do que eu sinto quando eu tô com você.

É aquele olhar que cê dá antes de virar e ir, com a promessa eterna de que volta. Que me abraça. Que me ama enquanto der – e isso já é mais do que tudo o que eu já tive. E enquanto você caminha pela rua torta da minha casa, e eu começo a sentir a dor leve da sua ausência, numa certeza besta de que eu tô completamente perdida, eu só consigo pensar uma coisa: você é um sonho bom. E mudou o tom da minha vida.

Karine

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