Barba


[Você pode ler este texto ao som de Déranger Les Pierres]

Estávamos na cama, quando ela veio despretensiosa, passou a mão pelo meu rosto e disse num pedido velado:

– “Porque você ta sempre com essa barba por fazer? Tinha curiosidade de saber como você fica sem barba…”

Eu não mantenho a barba por uma questão de estética ou pra parecer mais viril. Não é pra disfarçar meu rosto de garoto também. Ela nem imagina, mas essa barba só tá aqui porque foi você quem pediu.

Faz tanto tempo que eu nem lembro mais o contexto, vai ver foi numa daquelas vezes que eu insistia pra você falar alguma coisa em francês pra mim e você, morrendo de vergonha, barganhava sempre pedindo pra eu fazer alguma coisa também. Eu faria qualquer coisa pra ouvir um “chérie” que fosse.

A barba é um ritual de passagem: quando um garoto começa a ter sua barba, ele está se tornando um homem. E foi exatamente isso que aconteceu com esse garoto de barba crescida aqui. Não por motivos hormonais ou coisa assim, eu cresci (e a barba também), mas foi por total influência sua, porque você apareceu na minha vida. Lembro de você todas as vezes que me olho no espelho, e isso é muito bom, sabe? A barba me serve de lembrete pra todos aqueles momentos bons que a gente passou. Às vezes dá saudade também, mas aprendi a encarar a saudade como uma coisa boa. Eu carrego você e a saudade estampadas no meu rosto.

Você foi embora, mas a barba ficou, assim como uma tatuagem, sabe? Uma marca de que você passou por aqui. De que não foi tudo como um sonho bom meu. Talvez uma assinatura sua, tomando posse do meu rosto, coração e tudo mais que tiver aqui.

A verdade é que essa barba viu os dias mais felizes que eu já tive. E isso já é motivo para ela ficar aqui. Pra sempre.

Precisei de uns segundos pra afastar o pensamento de você e voltar pra conversa que estava tendo, mais alguns outros pra conseguir lembrar o nome da menina e aí responder:

– “Ah, é que eu acho que fico (sou) melhor de barba….”

doug

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