Eu até entendo quando ela diz que não consegue encontrar aquilo que ela tanto procura. E tento fazê-la entender que ela é só mais uma entre um milhão de outros que também sofrem do mesmo mal. Ela bate o pé, levanta a bandeira de que está certa em prosseguir com a missão.
Eu tenho pena da menina, sabe. Ingênua e esperançosa. Ela é bem melhor do que um dia eu poderia ser. Do caráter ao amor que sente, ela se supera e me supera com facilidade a cada palavra dita. Mas mal sabe ela que a batalha já está perdida. Incansavelmente, recebo uma aula de como não desistir de um sonho. A menina recria com lágrimas e beijos o cenário perfeito do que eu poderia entender por sonhar.
Ela tem certeza absoluta de tudo o que diz e o que faz. Pobrezinha, está perdendo tempo enquanto isso é a única coisa que ela não tem. Seu caminho é cada espaço que encontra onde possa se embrenhar por esse território desconhecido do meu corpo. Se põe por entre meus braços e se dá por satisfeita mesmo que eu não a sinta ali. Mesmo que eu só saiba o que é amor pelas descrições que ela me dá.
Se fosse eu, já teria morrido, ainda que isso seja impossível. Ela cisma em colocar a mão na minha nuca enquanto se apóia nas escadas que eu deixo à mostra. Sobe cada degrau com igual vontade e dedicação. Galga a montanha árdua e gelada que é o meu peito, cheia de certeza de que encontrará o seu tão cobiçado sonho. Cavalga em cavalos brancos que rumam para o sentido contrário, troca seu porto seguro por uma tempestade num bote, naufraga antes mesmo de conseguir chegar perto, atravessa a nado o oceano da minha existência.
Ela chega ao seu destino e seu sorriso se desfaz em poucos segundos ao ver o espaço vazio. A culpa não é minha, nem dela. Onde deveria haver um coração, há apenas uma caixa preta de velhos motivos que não se permite entender. E coração nenhum reside ali há tempos, desde que saiu por um caminho sem volta em busca de outro coração. Se perdeu pelo caminho e morreu por aí.
É quando ela olha pra mim, procurando por explicações. Só consigo retomar a voz e dar meu ultimato.
Prazer, meu bem, eu sou seu Homem de Lata.
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